segunda-feira, 3 de agosto de 2015

19 DE AGOSTO DE 2015


BONNIE E CLYDE (1967)

Aquando da sua estreia, “Bonnie e Clyde” não teve o sucesso crítico que mereceria e, mais ainda, suscitou uma tremenda polémica nos EUA (e também em Portugal, e um pouco por todo o lado onde se exibiu) que teve por base a violência explosiva que testemunhava e que, por aquela altura (1967), não era muito vulgar no cinema. No ano seguinte, ao escrever no DL, considerei-o o “melhor filme do ano”, dizendo que tinha sido precocemente “arrumado nas prateleiras o arsenal de “Bonnie e Clyde”, calando as rajadas de metralhadoras, ocultando a mais desesperadamente bela morte do cinema moderno”.
Julgo que será interessante recuperar esse texto que me parece não só significativo de um tempo, como sobretudo da importância do filme e da sua perenidade. Ainda hoje, o seu arrojo espanta e o seu significado humano e sociológico perdura.
Rezava assim o que então escrevi: “Como por “vingança do destino”, “Bonnie e Clyde” renasceu. Na base deste acontecimento surpreendente e sem paralelo vamos encontrar razões de vária ordem: a maior das quais se estriba, certamente, no êxito tremendo que esta película de Arthur Penn despertou em todo o mundo. Êxito feito pelo público (única e exclusivamente), êxito que pode muito simplesmente significar uma identificação de propósitos e desespero entre as gerações destes anos agitados de 67-68 e as da época conturbada da Grande Depressão económica dos anos 30, período que permitiu o aparecimento de figuras como Bonnie e Clyde, agora ressuscitadas do esquecimento por uma juventude que se interroga, irada e impotente perante todos os crimes passados (e presentes).
Sobre o argumento de Robert Benton e David Newman, esta biografia de Bonnie e Clyde esteve para ser dirigida, primeiramente, por Truffaut, depois por Godard. Acabou por ser comprada por 75 000 dólares, mas ficou nas mãos de Warren Beatty, que decidiu entregá-la a Arthur Penn. O realizador, desiludido com os cortes sofridos por “Perseguição Impiedosa” (e impostos pela Columbia), decidira abandonar o cinema. Mas a história entusiasmou-o. Bem assim como as condições em que a mesma prometia vir a ser rodada: inteira liberdade de acção, assegurada por Warren Beatty, que funcionava como produtor, depois de ter conseguido um adiantamento reduzido de Jack Warner. Após algumas hesitações no que respeita à escolha da actriz que iria viver a personagem de Bonnie, o filme principiou, concluiu-se, estreou-se. Meia dúzia de pessoas assistiu à estreia; alguns críticos viram e não gostaram. Estamos na América de Lindsay Johnson, fins de 1967. Mas o público começou a ir. Na Europa, é o sucesso; na América, envergonhados, alguns críticos voltam à plateia, revêem e dão o dito por não dito: afinal, “Bonnie e Clyde” é um grande filme. Mas Bosley Crowther, no “New York Times”, diz três vezes que não. Na última, foi despedido, após muitos anos “de bons e leais serviços”. Foi a última vítima de Bonnie e Clyde (“Express”, Pierre Billard). Hoje, “Bonnie e Clyde” espera a consagração dos Óscares. Prevemos-lhe vários e todos inteiramente merecidos (não os teve, soube-se depois).
Do êxito ao mito foi um salto. Bonnie e Clyde surgem em cartazes, discos, propaganda, vestuário, moda. Com o nome de Bonnie and Clyde vendem-se carros, boinas, vestidos, fatos, cartazes, revistas. Warren Beatty e Faye Dunaway invadem todos os domínios, inquietantes...


No início da década de 30, nos E.U.A., existi­ram, em carne e sangue, dois gangsters de reputação lendária. Bonnie e Clyde roubavam bancos, ajudavam os camponeses, eram auxiliados por negros e pobres brancos, encarnando em si um ideal de justiça social que a Depressão e os seus anos de fome haviam afas­tado há muito da sociedade norte-americana. Rou­bando e matando depois (entrando numa engrenagem de que desconheciam as regras, mas de que suspeitavam o aliciante), Bonnie e Clyde transformaram-se num dos mais famosos casais de fora-da-lei de toda a América. Clyde, de metralhadora em punho e estranhamente impotente no amor; Bonnie, compondo poesia da sua vida aventurosa nos intervalos dos assaltos; ambos personificando a falência de um humanismo que os tomou reais. Eles, e ainda todos os outros que os rodeiam, os perseguem, prendem, auxiliam, encobrem ou matam, todos compõem o retrato de uma nação, de um povo, de uma época. E Arthur Penn vai até à minúcia, esgravata documentação do impossível, e descobre, para além do retrato, também a respiração, as veias, o sangue que corria na América de 30.
Depois, há ainda um ritmo: intercalado de situações burlescas e de cenas de uma violência trágica, desgastante, envolvente. Ao ritmo trepidante de uma balada do velho Oeste, que serve de pano de fundo a toda uma série de perseguições (comparáveis à comédia burlesca), sucede-se o crepitar medonho de metralhadoras despejando a morte (como os polícias negros da época); a uma cena de amor impossível nos campos verdes, selvagens e livres, justapõem-se os últimos olhares de um casal crivado de balas e jorrando sangue de mil chagas, sangue-sangue, vermelho, vivo e quente.
Cite-se ainda a interpretação de Faye Dunaway e Warren Beatty, que fazem de Bonnie e Clyde dois dos muitos anjos caídos, homens desalojados da sua condição, figuras à procura de um lugar, mas recusando entrar no único jogo que lhe indicam possível. Finalmente, assinale-se que Arthur Penn nos deu a obra-prima que vinha prometendo desde o início da sua carreira. Acrescente-se que promete mais, muito mais…”
Assim foi. Arthur Penn deu-nos depois obras magníficas, mas “Bonnie e Clyde” manteve-se o seu filme chave que, ainda hoje, permanece actual e permite as mais curiosas comparações com outros períodos da História, onde a crise económica, social e política segreda a marginalidade e o crime.
Arthur Hiller Penn nasceu em Filadélfia, a 27 de Setembro de 1922, e veio a falecer a 28 de Setembro de 2010, um dia depois de completar 88 anos. Começou a sua carreira na televisão, onde adquiriu celebridade como realizador, passando ao cinema em 1958, com “The Left Handed Gun” (Vício de Matar), a história do lendário Billy the Kid, interpretada por Paul Newman, demostrando desde logo as suas preocupações sociais e seu estilo. Seguiram-se “O Milagre de Anne Sullivan”, “Mickey One”, “Perseguição Impiedosa”, “Bonnie e Clyde”, que o consagrou definitivamente, “O Restaurante de Alice”, “O Pequeno Grande Homem”, “Duelo no Missouri”, e mais alguns títulos que o colocaram entre os grandes autores de Hollywood, entre os anos 60 e 80.

BONNIE E CLYDE (1967)
Titulo original : Bonnie and Clyde
Realização: Arthur Penn (EUA, 1967); Argumento: David Newman, Robert Benton, Robert Towne; Produção: Warren Beatty; Música: Charles Strouse; Fotografia (cor): Burnett Guffey; Montagem: Dede Allen; Direcção artística: Dean Tavoularis; Decoração: Raymond Paul; Guarda-roupa: Theadora Van Runkle; Maquilhagem: Robert Jiras, Gladys Witten; Direcção de produção: Russell Saunders; Assistentes de realização: Jack N. Reddish; Departamento de arte: Stuart Spates; Som: Francis E. Stahl, Dan Wallin; Efeitos especiais: Danny Lee; Companhias de produção: Warner Brothers/Seven Arts, Tatira-Hiller Productions; Intérpretes: Warren Beatty (Clyde Barrow), Faye Dunaway (Bonnie Parker), Michael J. Pollard (C.W. Moss), Gene Hackman (Buck Barrow), Estelle Parsons (Blanche), Denver Pyle (Frank Hamer), Dub Taylor (Ivan Moss), Evans Evans (Velma Davis), Gene Wilder (Eugene Grizzard), Martha Adcock, Harry Appling, Owen Bush, Mabel Cavitt, Patrick Cranshaw, Frances Fisher, Sadie French, Garry Goodgion, Clyde Howdy, Russ Marker, Ken Mayer, Ken Miller, Ann Palmer, Stuart Spates, James Stiver, Ada Waugh, etc. Duração: 112 minutos; Distribuição em Portugal (DVD): Zon Lusomundo; Classificação etária: M/16 anos; Data de estreia em Portugal: 1 de Dezembro de 1967.


FAYE DUNAWAY (1941 - )
Dorothy Faye Dunaway nasceu a 14 de Janeiro de 1941, em Bascom, Flórida, EUA. A mãe era Grace Smith e o pai MacDowell Dunaway, Jr, oficial do exército. Viajando muito pelos EUA e pela Europa, eram frequentes as zangas, até chegar o divórcio. Com dez anos Dorothy Faye Dunaway viu-se na contingência de sobreviver quase por si só. Estudou dança, piano, canto, estudou na universidade de Boston. Em 1962, com 21 anos, estuda teatro na American National Theater and Academy. Notada por Lloyd Richards, indicada a Elia Kazan, integra o elenco da Lincoln Center Repertory Company, onde cresce como actriz, apesar da sua vida instável, emocionalmente perturbada, sendo frequente a sua visita a psicanalistas. Mas o sucesso avizinha-se. No cinema estreia-se num pequeno papel em “O Incerto Amanhã”, de Otto Preminger, mas foi, pouco depois, quando protagonizou “Bonnie & Clyde”, ao lado de Warren Beatty, que a sua sorte mudou de vez, chegando rapidamente ao estatuto de vedeta, uma mistura explosiva de mulher fria e sensual, de verdadeiro sex symbol da nova América dos anos 60. A carreira entrou em contínua ascensão e participa num importante conjunto de obras, a começar por “The Thomas Crown Affair”, de Norman Jewison; Amanti, de Vittorio, de Sica; 1969: “The Arrangement”, de Elia Kazan, “Little Big Man”, de Arthur Penn, “Chinatown”, de Roman Polanski, “Three Days of the Condor”, de Sydney Pollack, até culminar com “Network”, de Sidney Lumet, em 1976, que lhe valeu o Oscar de Melhor Actriz.
A partir dos anos 80, a sua carreira conhece alguma perda de fulgor, com aparecimento em filmes menos interessantes. Tem fama de ser “difícil”, e a sua interpretação em “Mommie Dearest”, de Frank Perry (1981) parece ter contribuído para esta fama. Ela própria explica o relativo apagamento da sua imagem com este filme que ela detesta e que, parece, gostaria de fazer desaparecer da sua filmografia: “Este filme arruinou a minha carreira como actriz principal, porque o meu desempenho foi muito bom num papel odioso, que provocou grande antipatia entre o público cinéfilo”.
Faye foi casada duas vezes, a primeira com Peter Wolf, cantor do grupo de rock J. Geils Band, nos anos 70 e com o fotógrafo inglês Terry O’Neil, com quem teve um filho. Faye Dunaway recebeu, ao longo da sua carreira, inúmeros prémios e distinções, entre eles um Oscar, dois BAFTAS, quatro Globos de Ouro. Tem uma estrela que lhe foi atribuída no Hollywood Walk of Fame, junto ao nº 7021 de Hollywood Boulevard. Em Outubro de 1997, a revista Empire organizou um inquérito para saber quais as maiores vedetas de todos os tempos. Faye Dunaway surgiu em 65º lugar.


Filmografia
Como Actriz: 1967: Hurry Sundown (O Incerto Amanhã), de Otto Preminger; The Happening (Os Devassos), de Elliot Silverstein; Bonnie and Clyde (Bonnie e Clyde), de Arthur Penn; 1968: The Thomas Crown Affair (O Grande Mestre do Crime), de Norman Jewison; Amanti (Um Lugar para Amar), de Vittorio, de Sica; 1969: The Extraordinary Seaman (O Marinheiro Fantástico), de John Frankenheimer; The Arrangement (O Compromisso), de Elia Kazan; 1970: Little Big Man (O Pequeno Grande Homem), de Arthur Penn; Puzzle of a Downfall Child (Tempo, de Viver), de Jerry Schatzberg; 1971: La Maison sous les arbres (Uma Casa à Sombra das Árvores), de René Clément; Doc (Vento do Oeste), de Frank Perry; 1973: Oklahoma Crude (O Poço do Ódio), de Stanley Kramer; 1973: The Three Musketeers (Os Três Mosqueteiros - os diamantes da Rainha), de Richard Lester; 1974: Chinatown (Chinatown), de Roman Polanski; Four Musketeers (Os Quatro Mosqueteiros: A Vingança, de Milady), de Richard Lester; The Towering Inferno (A Torre do Inferno), de John Guillermin e Irwin Allen; 1975: Three Days of the Condor (Os Três Dias do Condor), de Sydney Pollack; 1976: Network (Escândalo na TV), de Sidney Lumet; Voyage of the Damned (A Viagem dos Malditos), de Stuart Rosenberg; 1978: Eyes of Laura Mars (Os Olhos, de Laura Mars), de Irvin Kershner; 1979: The Champ (O Campeão), de Franco Zeffirelli; 1980: The First Deadly Sin (O Primeiro Pecado Mortal), de Brian G. Hutton; 1981: Mommie Dearest (Querida Mãezinha), de Frank Perry; 1983: The Wicked Lady (A Dama Perversa), de Michael Winner; 1984: Supergirl (Supergir), de Jeannot Szwarc; 1985: Ordeal by Innocence (A Forca para Um Inocente), de Desmond Davis; 1987: Barfly (Barfly - Amor Marginal), de Barbet Schroeder; 1988: Midnight Crossing (Cruzeiro Sem Regresso), de Roger Holzberg; La partita, de Carlo Vanzina; Burning Secret (Segredo Ardente), de Andrew Birkin; 1989: In una notte di chiaro di luna (Morte Silenciosa), de Lina Wertmüller; Wait Until Spring, Bandini (A Primavera Virá, Bandini), de Dominique Deruddere; 1990: The Handmaid's Tale (A História da Aia), de Volker Schlöndorff; 1990: The Two Jakes (O Caso da Mulher Infiel), de Jack Nicholson (voz); 1991: Scorchers (Corpos Ardentes), de David Beaird; 1992: Lahav Hatzui, de Amos Kollek; 1993: Arizona Dream (Arizona), de Emir Kusturica; The Temp (Ambição Sem Limites), de Tom Holland; 1995: Don Juan DeMarco (Don Juan DeMarco), de Jeremy Leven; Drunks, de Peter Cohn; 1996: Dunston Checks In (Macaco à Solta, Pânico no Hotel), de Ken Kwapis; 1996: Albino Alligator (Albino Aligator), de Kevin Space; The Chamber (A Câmara Encerrada), de James Foley; 1997: The Twilight of the Golds), de Ross Kagan Marks; 1997: En brazos, de la mujer madura), de Manuel Lombardero; 1999: Love Lies Bleeding, de William Tannen; The Thomas Crown Affair (O Caso Thomas Crown), de John McTiernan; 1999: The Messenger: The Story of Joan of Arc (Joana de Arc), de Luc Besson; 1999: The Yards (Nas Teias da Corrupção), de James Gray; 2000: Stanley's Gig, de Marc Lazard; 2001: Yellow Bird, de Faye Dunaway (curta-metragem); Festival in Cannes, de Henry Jaglom; 2002: Mid-Century, de Scott Billups; Changing Hearts (Corações Quebrados), de Martin Guigui; The Rules of Attraction (As Regras da Atracção), de Roger Avary; 2002: Man of Faith ou The Calling, de Damian Chapa; 2003: Blind Horizon (O Assassino do Presidente), de Michael Haussman; 2004: Last Goodbye, de Jacob Gentry; El Padrino, de Damian Chapa; Jennifer's Shadow, de Daniel, de la Vega et Pablo Parés; 2005: Ghosts Never Sleep, de Steve Freedman; 2006: Cut Off (O Roubo), de Gino Cabanas; Love Hollywood Style, de Michael Stein; Rain, de Craig DiBona; La rabbia, de Louis Nero; 2007: Killer Hacker (The Gene Generation), de Pearry Reginald Teo; 2007: Cougar Club, de Christopher Duddy; 2007: Say It in Russian, de Jeff Celentano; 2007: Flick, de David Howard; 2008: Fashion: The Movie, de Jeff Espagnol; 2009: The Seduction of Dr. Fugazzi, de October Kingsley; 2009: Balladyna, de Dariusz Zawislak; 2009: The Magic Stone, de Jowita Gondek; 2009: 21 and a Wake-Up, de Chris McIntyre; 2012: Master Class,, de Faye Dunaway

Televisão: 1965: Seaway; 1969: The Trials of O'Brien; 1971: Great Performances: Hogan's Goat, de Glenn Jordan; 1972: The Woman I Love, de Paul Wendkos; 1974: After the Fall, de Gilbert Cate;1976: The Disappearance of Aimee, de Anthony Harvey; 1981: Evita Peron, de Marvin J. Chomsk; 1982: The Country Girl, de Gary Halvorson e Michael Montel; 1984: Ellis Island, de Jerry London; 1985: Christopher Columbus, de Alberto Lattuad; Thirteen at Dinner, de Lou Antonio; 1986: Raspberry Ripple, de Nigel Finch; Beverly Hills Madam, de Harvey Hart; 1987: Casanova, de Simon Langton; 1989: Cold Sassy Tree, de Joan Tewkesbury; 1990: Silhouette, de Carl Schenkel; 1993: It Had to Be You Columbo, de Vincent McEveety; 1995: A Family Divided, de Donald Wrye; Road to Avonlea 1996: The People Next Door,, de Tim Hunte; 1997: Rebecca, de Jim O'Brien; 1998: Gia, de Michael Cristofer; A Will of Their Own, de Karen Arthur; 2000: Running Mates, de Ron Lagomarsino; Stanley's Gig; 2001: Touched by an Angel; 2002: Soul Food; The Biographer: Diana - La vérité interdite, de Philip Saville; 2002-2003: Alias; 2004: Anonymous Rex, de Julian Jarrold; Back When We Were Grownups, de Ron Underwood; 2006: CSI: Crime Sob Investigação; 2007: Pandemic, de Armand Mastroianni; 2009: Grey's Anatomy (Anatomia de Grey); Midnight Bayou; 2010: A Family Thanksgiving; Earth Ring (curta-metragem);


Teatro: 1961-1963: A Man for All Seasons, de Robert Bolt; 1961-1963: After the Fall, de Arthur Miller, encenação de Elia Kazan; 1965: Infirmière84; 1964: But For Whom Charlie, de S. N. Behrman, encenação de Elia Kazan; 1964: The Changeling, de Thomas Middleton e William Rowley, encenação de Elia Kazan; Femme, de chambre86; 1982: The Curse of an Aching Heart, de William Alfred, encenação de Gerald Gutierrez.

18 DE AGOSTO DE 2015


FLOR À BEIRA DO PÂNTANO (1966)

Tennessee Williams é o autor da peça, em um acto, onde “se inspira” esta obra de Sydney Pollack, com guião escrito por Francis Ford Coppola, de colaboração com Fred Coe, Edith R. Sommer e David Rayfiel, este não creditado no genérico. A peça é curta, dez páginas, 20 minutos e pouco de representação, e vive unicamente do diálogo entre dois miúdos, ela, Willie, cerca de 13 anos, ele, Tom, um pouco mais velho, 16 anos, por aí. Ela tenta equilibrar-se nos velhos carris de caminho-de-ferro de uma estação abandonada, com os ferros carcomidos pela ferrugem, levando entre as mãos uma boneca a desfazer-se, ele é adepto de papagaios que voam pelo céu. Conversam e ela conta porque vive sozinha, numa casa que ostenta um letreiro que diz tudo sobre o que se passou e o que há-de vir, dando igualmente um significado à peça e ao filme dela retirado: “This Property Is Condemned”. Esta propriedade é a terra, a casa e os velhos habitantes daquela casa. Todos condenados. Estamos nos anos 30, na Grande Depressão nos EUA, na pequena povoação de Dodson, no estado do Mississípi. Aqui acaba esta desencantada e cruel peça de teatro.
O filme encarrega-se de reinventar a história que Willie conta, agora não só por palavras, mas através de um flashback, onde ficamos a conhecer Alva (Natalie Wood), irmã de Willie, e principal atração da terra. Ela e a mãe, Hazel Starr (Kate Reid), que dirigem uma pensão, meia saloon, meio salão de festas e quase bordel. No filme também é Willie Starr (Mary Badham) quem inicia a contagem da história, falando com Tom (Jon Provost), mas depois, através de uma viagem pelos carris dos caminhos-de-ferro, precipitamo-nos no passado, para conhecer a história de Alva, a belíssima rapariga que agrada a todos e a todos procura agradar, numa terra que vive da estação de comboios e do que lhe está associado.
É a essa terra que chega Owen Legate (Robert Redford), que se aloja na pensão Starr, onde participa, um pouco à distância, na festa de anos da Mãe Hazel Starr, que distribui beijos e carícias pelas visitas. Entre elas, J.J. Nichols (Charles Bronson), que se deita com a mãe enquanto espera pela filha. Mas Alva parece estar “reservada” pela mãe a um velho e rico cidadão, o Senhor Johnson (John Harding), que oferece pulseiras de diamantes e ouro, viagens e promete apartamento em Chicago. O ambiente é este, falta dizer que Alva se perde de amores por Owen Legate, sem saber que este vem com a incumbência de reorganizar o caminho-de-ferro, emagrecendo a empresa, retirando gorduras, enfim, despedindo pessoal. Estamos nos anos 30 na Grande Depressão, tal como depois de 2008, na Crise actual. Robert Redford é aqui o equivalente a George Clooney, em “Nas Nuvens”, com despedimentos cara a cara (e soco na cara), o que depois se passa a realizar através de uma muito mais higiénica “videoconferência”. Evoluções tecnológicas que não disfarçam o essencial.


Depois há muitas mais peripécias que não convém revelar, mas deve dizer-se que esta adaptação de Tennessee Williams, que acrescenta uma hora e vinte à duração da sua peça, é bastante bem feita no essencial, criando um ambiente que tem tudo a ver com o autor de “Um Eléctrico Chamado Desejo” e outras grandes obras teatrais, e desenvolvendo personagens absolutamente coerentes com o universo do dramaturgo. Alva é obviamente uma personagem de Tennessee Williams, poderia mesmo dizer-se que anda em tirocínio para a Blanche Dubois de “A Streetcar Named Desire”. Ao que consta, Tennessee Williams não teria gostado muito do filme, mas este tem essa toada desesperadamente poética, de solidão e sofrimento psicológico, com figuras que aspiram às estrelas e à felicidade absoluta, e se encontram presas numa terra de ninguém que as sufoca e se veem despojadas de tudo, arrastadas na lama, vivendo sonhos impossíveis que se transformam em traumas e frustrações causticantes. Tal como o afirma a canção preferida de Alva, que é cantada por Willie, que assim passa para si os sonhos irrealizados da irmã. Os sonhos ficam, mas os espectadores percebem que o equilíbrio nos carris não conduzirá a nada, a não ser a um horizonte fechado na paisagem. Não haverá nem Chicago nem New Orleans.
O filme poderá ter, aqui e ali, uma ou outra falha, sobretudo quando entra numa toada romantizada, quase no final, mas é um excelente retrato de uma época povoada por personagens bem defendidos por actores míticos. Natalie Wood tem aqui um dos seus grandes papéis, entre a fragilidade e a resistência perante a adversidade, Robert Redford mostra-se já um grande actor e uma presença impactante, mas creio que Kate Reid e Mary Badham merecem ainda destaque especial. O mesmo se dirá para a banda sonora de Kenyon Hopkins e a fotografia de James Wong Howe.
Esta é a segunda longa-metragem de Sydney Pollack, recém-saído dos estúdios de televisão onde fizera tirocínio para voos mais altos, entre 1961 e 1965. “Chamada Para a Vida” ("The Slender Thread) assinala a sua estreia na longa-metragem, mas será “This Property Is Condemned” a projectá-lo definitivamente para uma carreira de grande cineasta, autor de obras essenciais como “Os Cavalos Também se Abatem”, “As Brancas Montanhas da Morte”, “O Nosso Amor de Ontem”, “Yakuza”, “Os Três Dias do Condor”, “O Cowboy Eléctrico”, “A Calúnia”, “Tootsie - Quando Ele Era Ela”, “África Minha”, “A Firma”, “Sabrina” ou “Encontro Acidental”, entre outros. Mas “This Property Is Condemned” não lhe esteve reservado desde início. O filme era para ser interpretado por Elizabeth Taylor e Richard Burton, com este último a realizar. Depois, já com Natalie Wood na protagonista, passou para as mãos de John Huston, de John Frankenheimer, até chegar a Pollack, um pouco por influência de Robert Redford. 

FLOR À BEIRA DO PÂNTANO
Título original: This Property Is Condemned
Realização: Sydney Pollack (EUA, 1966); Argumento: Francis Ford Coppola, Fred Coe, Edith R. Sommer, David Rayfiel, segundo peça teatral de Tennessee Williams; Produção: John Houseman, Ray Stark; Música: Kenyon Hopkins; Fotografia (cor): James Wong Howe; Montagem: Adrienne Fazan; Design de produção: Stephen B. Grimes; Direcção artística: Philip M. Jefferies, Hal Pereira; Decoração: William Kiernan; Guarda-roupa: Edith Head; Maquilhagem: Sugar Blymyer, Edwin Butterworth, Gary Morris, Wally Westmore; Direcção de Produção: Clarence Eurist; Assistentes de realização: Eddie Saeta;  Som: Charles Grenzbach, Harry Lindgren; Efeitos visuais: Farciot Edouart, Paul K. Lerpae; Companhias de produção: Paramount Pictures, Seven Arts Productions; Intérpretes: Natalie Wood (Alva Starr), Robert Redford (Owen Legate), Charles Bronson (J.J. Nichols), Kate Reid (Hazel Starr), Mary Badham (Willie Starr), Alan Baxter (Knopke), Robert Blake (Sidney), Dabney Coleman, John Harding, Ray Hemphill, Brett Pearson, Jon Provost, Robert Random, Quintin Sondergaard, Mike Steen, Bruce Watson, Ralph Roberts, Nick Stuart, etc. Duração: 110 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovisuais / Paramount (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos.


NATALIE WOOD (1938 - 1981)
Foi um dos rostos da juventude em fúria, ou do conflito de gerações entre meados dos anos 50 e meados da década de 60, em obras essenciais, como “Rebel Without a Cause”, de Nicholas Ray; “The Searchers”, de John Ford; “West Side Story”, de Jerome Robbins e Robert Wise, “Splendor in the Grass”, de Elia Kazan; “ Love with the Proper Stranger” ou “Inside Daisy Clover”, ambos de Robert Mulligan. Belíssima, tocante na sua fragilidade, foi uma actriz excelente, que a morte colheu precocemente e de forma muito misteriosa.
Natasha Nikolaevna Zakharenko ou Natasha Nikolaevna Gurdin, nome de baptismo de Natalie Wood, nasceu a 20 de Julho de 1938, em San Francisco, Califórnia, EUA, e viria a falecer a 29 de Novembro de 1981, com 43 anos, na Ilha de Santa Catalina, Califórnia, EUA. Em 1943, com apenas quatro anos de idade, Natalie Wood estreia-se no cinema, nos filmes “The Moon Is Down” e “Happy Land”. Como actriz infantil, participa em muitas obras, inclusive no clássico natalício, “Miracle on 34th Street” (1947). A partir de 1955, com 17 anos, Natalie lança-se numa carreira adulta, no filme de Nicholas Ray, “Fúria de Viver”, ao lado de outros jovens como James Dean e Sal Mineo. Segundo Suzanne Finstad, autora de “Natasha: The Biography of Natalie Wood”, publicado em 2001, Natalie Wood terá tido uma relação com o realizador Nicholas Ray, para conseguir o papel de protagonista. Depois do sucesso de “Rebel Without a Cause”, protagoniza um conjunto de filmes onde impõe a sua beleza, elegância e talento, entre os quais é justo destacar “The Searchers”, “Splendor in the Grass”, “West Side Story”, “Love with the Proper Stranger”, “Sex and the Single Girl”, “The Great Race”, “Inside Daisy Clover”, ou “This Property Is Condemned”, ao mesmo tempo que mantinha uma continua actividade na televisão. Em 1981, enquanto decorriam as filmagens de “Brainstorm”, com Christopher Walken, faleceu num acidente estranho e nunca totalmente esclarecido. Em Novembro desse ano, enquanto navegava num iate, com o marido, Robert Wagner, e o colega de ambos, Christopher Walken, morreu afogada. Tinha 43 anos de idade. Encontra-se sepultada no Westwood Memorial Park, Los Angeles, Califórnia.
Nomeada para o Oscar de Melhor Actriz por três vezes: 1955 - Rebel Without a Cause; 1961 - Splendor in the Grass; e 1963 - Love with the Proper Stranger; Golden Globe: Melhor Actriz de TV (Drama): 1980 - From Here To Eternity. Casada por duas vezes com Robert Wagner (1957 - 1962) e (1972 - 1981) e ainda com Richard Gregson (1969 - 1972).



Filmografia
Como actriz: Cinema: 1943: The Moon Is Down (Noite sem Lua), de Irving Pichel; Happy Land (Terra Sagrada), de Irving  Michel; 1946: The Bride Wore Boots, de Irving Pichel; Tomorrow Is Forever (Amanhã Viveremos), de Irving Pichel; 1947: Driftwood, de Allan Dwan; The Ghost and Mrs. Muir (O Fantasma Apaixonado), de Joseph L. Mankiewicz; Miracle on 34th Street (De Ilusão Também Se Vive), de George Seaton; 1948: Scudda Hoo! Scudda Hay! (Encanto da Mocidade), de F. Hugh Herbert; 1949: Father Was a Fullback, de John M. Stahl; The Green Promise (Terra de Promissão), de William D. Russell; Chicken Every Sunday, de George Seaton; 1950: Never a Dull Moment (Convite ao Amor), de George Marshall; The Jackpot (Cautela com os Fiscais), de Walter Lang; Our Very Own (Entre Duas Mães), de David Miller; No Sad Songs for Me (Destino Amargo), de Rudolph Maté; 1951: The Blue Veil (O Véu Azul), de Curtis Bernhardt; Dear Brat, de William A. Seiter; 1952: The Star (A Estrela), de Stuart Heisler; Just for You' (Só Para Ti), de Elliott Nugent; The Rose Bowl Story, de William Beaudine; 1954: The Silver Chalice (O Cálice de Prata), de Victor Saville; 1955: Rebel Without a Cause (Fúria de Viver), de Nicholas Ray; One Desire (Um Só Desejo), de Jerry Hopper; 1956: The Girl He Left Behind (Quero-te, mas Deixa-me), de David Butler; The Burning Hills (O Monte do Desespero), de Stuart Heisler; A Cry in the Night (Um Grito na Escuridão), de Frank Tuttle; The Searchers (A Desaparecida), de John Ford; 1957: Bombers B-52 (Bombardeiro B-52), de Gordon Douglas; 1958: Kings Go Forth (Só Ficou a Saudade), de Delmer Daves; Marjorie Morningstar (Fúria de Amar), de Irving Rapper; 1960: All the Fine Young Cannibals (Escândalo na Sociedade), de Michael Anderson; Cash McCall (O que são as Mulheres), de Joseph Pevney ; 1961: West Side Story (Amor Sem Barreiras), de Jerome Robbins e Robert Wise; Splendor in the Grass (Esplendor na Relva), de Elia Kazan; 1962: Gypsy (Gypsy), de Mervyn LeRoy; 1963: Love with the Proper Stranger (Amar Um Desconhecido), de Robert Mulligan; 1964: Sex and the Single Girl (A Solteira e o Atrevido), de Richard Quine; 1965: Inside Daisy Clover (O Estranho Mundo de Daisy Clover), de Robert Mulligan ; 1965: The Great Race (A Grande Corrida à Volta do Mundo), de Blake Edwards; 1966: Penelope (Os Prazeres de Penélope), de Arthur Hiller; 1966: This Property Is Condemned (Flor à Beira do Pântano), de Sydney Pollack; 1969: Bob & Carol & Ted & Alice (Bob & Carol & Ted & Alice), de Paul Mazursky; 1972: The Candidate (O Candidato), de Michael Ritchie (cameo); 1975: Peeper, de Peter Hyams; 1979: Meteor (Meteoro), de Ronald Neame; 1980: The Last Married Couple in America (Os Bem Casados), de Gilbert Cates; 1980: Willie & Phil (O Trio do Amor), de Paul Mazursky (cameo); 1983: Brainstorm (Projecto Brainstorm), de Douglas Trumbull;

Televisão: 1952: The Schaefer Century Theatre; Gruen Guild Playhouse; 1953: Jukebox Jury; The Pride of the Family; 1954: The Public Defender; Mayor of the Town; 1969: Bracken's World; 1973: The Affair; 1976: Cat on a Hot Tin Roof; 1978: Switch; 1979: Hart to Hart; From Here to Eternity; The Cracker Factory; 1980: The Memory of Eva Ryker; Willie & Phil.

12 DE AGOSTO DE 2015


DR. JIVAGO (1965)

“Dr. Jivago”, de David Lean parte do romance homónimo de Boris Pasternak, prémio Nobel de Literatura de 1958. A obra provocou uma enorme polémica internacional ao ser lançada no Ocidente e terá interesse recordar um pouco este historial. Pasternak iniciou a escrita deste épico na década de 10 do século XX, mas só estaria acabado em 1956. Nesse ano, submetido à consideração da revista literária “Novy Mir” viu recusada a sua publicação, pois não se incluía nos cânones do então chamado “realismo socialista” e era vista objectivamente como uma crítica ao sistema soviético. Pasternak enviou várias cópias do manuscrito em russo para amigos que viviam no ocidente e, em 1957, o editor italiano Giangiacomo Feltrinelli, comunista, conseguiu ter acesso ao romance e publicou-o. A União dos Escritores Soviéticos fez tudo para impedir a publicação da tradução, mas ela fez-se em 1957 e Feltrinelli foi expulso do PCI. Entretanto, o sucesso do livro foi imediato, com traduções em todas as línguas e edições clandestinas em russo. Depois, foi a consagração do Nobel, que causaria outras polémicas com alguns a considerar que tinha sido a CIA a incentivar a atribuição do prémio para criar embaraços ao governo soviético. Em 23 de Outubro de 1958, foi anunciado que Boris Pasternak ganhara o Prémio Nobel de Literatura de 1958, em função da sua “contribuição para a poesia lírica russa” e pelo seu papel "em prosseguimento da grande tradição da épica russa". Pasternak, por telegrama, agradece à Academia Sueca, “Infinitamente grato, emocionado, orgulhoso, surpreendido, esmagado”. Mas o escândalo e as ameaças na URSS levam o escritor a escrever de novo à Academia: “Tendo em conta o significado dado ao prémio pela sociedade em que vivo, tenho de renunciar a essa distinção imerecida, que me foi conferida. Por favor, não considerem a despropósito a minha renúncia voluntária”. E assim Pasternak não recebeu o Nobel, que só muitas anos depois (1989), um filho receberia, em nome do pai. O escritor, que recusou exilar-se no Ocidente, morreu na URSS, na noite de 30 de maio de 1960, vítima de cancro nos pulmões. 


A adaptação do romance a cinema não mobiliza divergências de monta, ainda que muito se tenha alterado, em função, essencialmente, de condensar as muitas centenas de páginas da obra literária nas três horas de projecção do filme. Mas ao essencial a adaptação mostra-se fiel. Numa época de profundas transformações sociais na Rússia, que se estende desde a I Guerra Mundial, passando pela Revolução Bolchevique de 1917, até finais da Guerra Civil, vamos acompanhar o percurso de uma personagem, Yuri (Omar Sharif), médico e poeta, em confronto com as alterações sociais e políticas por que passa o seu país. Yuri não é um potencial revolucionário, mas compreende que a Rússia czarista tem de mudar. A prepotência e a corrupção assentaram arraiais na sociedade e isso justifica de alguma maneira o levantamento popular e a implementação do comunismo. De início, até poderá sentir certa simpatia pelos revolucionários, mas progressivamente vai compreendendo que as transformações ocorreram apenas para se substituir uma burguesia corrupta e violenta na defesa dos seus interesses, por um aparelho corrupto e violento na defesa dos seus novos interesses. O povo nada beneficiou com a troca, as dificuldades são as mesmas, se não pioraram. Integrando-se neste quadro histórico que David Lean traça com pinceladas largas, surge Yuri, lamentando de início a morte da mãe, e oscilando depois no seu amor entre a mulher, Tonya (Geraldine Chaplin) e a amante, Lara (Julie Christie), a generosa cumplicidade da companheira, e a impulsividade criativa da paixão. Mas o que interessa sobretudo a Pasternak, e posteriormente a David Lean, é o entrecruzar de destinos, o choque entre o movimento colectivo e a deambulação individual. Entre a Revolução e a introspecção. Ou entre um equilíbrio que deverá sempre existir entre o nós e o eu, e a perversão que se verifica quando um dos lados se emancipa ditatorialmente. Daí a crítica que o romance e o filme comportam a um sistema que foi derrapando rapidamente das boas intenções iniciais para a tirania férrea dos tempos de Estaline.


Se Yuri é um poeta, David Lean procura prolongar esse estado poético ao longo do filme, criando uma atmosfera que liga admiravelmente o individual e o colectivo, o homem e a natureza, os estados amorosos e o destempero da violência. Esta foi uma obra que obteve um grande sucesso comercial e arrecadou cinco Oscares. As estatuetas foram para o Melhor Argumento Adaptado (Robert Bolt),  A Melhor Fotografia a Cores (Freddie Young), a Melhor Direcção Artística a Cores (John Box, Terence Marsh e Dario Simoni), o Melhor Guarda-roupa (Phyllis Dalton), e Melhor Partitura Musical Original (Maurice Jarre). Ainda esteve nomeado para Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actor Secundário (Tom Courtenay), Melhor Som e Melhor Montagem. Um dos grandes trunfos terá sido indiscutivelmente o “tema de Lara”, uma composição musical romântica que tornou inesquecível este filme, uma superprodução com momentos fulgurantes e uma descrição cuidada de uma época de difícil reconstituição. O gosto pela vastidão da paisagem (aqui a paisagem gelada do Norte, como fora em Lawrence da Arábia”, o deserto, ou, em "Passagem Para a India”, os exteriores deslumbrantes do Oriente misterioso), a discrição no esboçar dos conflitos humanos e no despoletar das paixões, o equilíbrio encontrado entre a história individual e o drama colectivo, tudo isto faz de «Dr. Jivago” um belíssimo filme. A interpretação é quase sempre brilhante, quanto a mim com o senão de Omar Shariff que não está à altura da personagem. Mas David Lean mostra-se num glorioso momento de forma, ele que era uma referência imediata para cineastas como Stanley Kubrick, que o considerava um dos três únicos realizadores mundiais a que tinha de assistir a todos os filmes, ou Steven Spielberg, que quando parte para mais uma rodagem afirma rever com prazer e proveito alguns clássicos do grande mestre Lean.

DOUTOR JIVAGO
Título original: Doctor Zhivago
Realização: David Lean (Inglaterra, EUA, Itália, 1965); Argumento: Robert Bolt, segundo romance de Boris Pasternak; Produção: Arvid Griffen, Carlo Ponti; Música: Maurice Jarre; Fotografia (cor): Freddie Young; Montagem: Norman Savage; Casting: Irene Howard; Design de produção: John Box; Direcção artística: Terence Marsh; Decoração: Dario Simoni; Guarda-roupa: Phyllis Dalton; Maquilhagem: Anna Cristofani, Grazia De Rossi, Mario Van Riel; Direcção de Produção: John Palmer, Agustín Pastor, Douglas Twiddy, Stanley Goldsmith, Tadeo Villalba; Assistentes de realização: Roy Rossotti, Roy Stevens, Pedro Vidal, Peter Beale, José María Ochoa, Michael Stevenson; Departamento de arte: Fred Bennett, Gus Walker, Tom Jung, Mickey Lennon, Julián Martín, Gil Parrondo, Wallis Smith; Som: Paddy Cunningham, Winston Ryder, Van Allen James; Efeitos especiais: Eddie Fowlie; Efeitos visuais: Gerald Larn; Companhias de produção: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), Carlo Ponti Production, Sostar S.A.; Intérpretes: Omar Sharif (Yuri), Julie Christie (Lara), Geraldine Chaplin (Tonya), Rod Steiger (Komarovsky), Alec Guinness (Yevgraf), Tom Courtenay (Pasha), Siobhan McKenna (Anna), Ralph Richardson (Alexander), Rita Tushingham (a rapariga), Jeffrey Rockland (Sasha), Tarek Sharif (Yuri aos 8 anos), Bernard Kay (o bolchevique), Klaus Kinski (Kostoyed), Gérard Tichy (Liberius), Noel Willman, Geoffrey Keen, Adrienne Corri, Jack MacGowran, Mark Eden, Erik Chitty, Roger Maxwell, Wolf Frees, Gwen Nelson, Lucy Westmore, Lili Muráti, Peter Madden, Luana Alcañiz, Assad Bahador, José María Caffarel, Emilio Carrer, Catherine Ellison, Pilar Gómez Ferrer, Víctor Israel, Inigo Jackson, Gerhard Jersch, Jari Jolkkonen, Leo Lähteenmäki, María Martín, José Nieto, Ricardo Palacios, Ingrid Pitt, Robert Rietty, Mercedes Ruiz, Aldo Sambrell, Virgilio Teixeira (capitão), Brigitte Trace, María Vico, etc. Duração: 186 minutos; Distribuição em Portugal: Warner (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 20 de Setembro de 1966.


JULIE CHRISTIE (1941 - )
Há actrizes e actores que ficam marcados por um papel, uma personagem. Julie Christie não terá ficado para sempre associada à figura de Lara no “Doutor Jivago”, mas andou muito perto. No entanto, o seu talento e a sua fotogenia dispersaram-se por muitas outras obras, inglesas e internacionais.
Julie Frances Christie nasceu a 14 de Abril de 1941, em Chabua, na Índia britânica. Filha de uma pintora, Rosemary, e Francis "Frank" St. John Christie, que detinha uma plantação de chá. Com o divórcio dos pais, viveu com a mãe na zona rural do País de Gales. Estudou na escola do Convento de Our Lady, em Leonards-on-Sea, East Sussex, na Wycombe Court School, High Wycombe, Buckinghamshire, também na Central School of Speech and Drama. Em 1957, estreia-se na televisão e esteve para figurar no elenco do primeiro James Bond, mas os seus seios foram considerados pelos produtores pouco abonados. O primeiro grande papel da sua carreira é em “Billy Liar”, de John Schlesinger (1963). Aparece então associada ao movimento do “Free Cinema”. Dois anos depois, triunfa em toda a linha com “Darling”, do mesmo Schlesinger, onde ganha o Oscar de Melhor Actriz. No mesmo ano, brilha sob a direcção de David Lean, em “Doctor Zhivago”. A sua carreira a partir daí é um pouco irregular, mas vai aparecendo sempre em obras relevantes onde demonstra o seu inegável talento, que lhe valeu inúmeros prémios. Manteve uma relação com Warren Beatty, tendo actuado em filmes por ele dirigidos, como Shampoo (1975) e Heaven Can Wait (1978). Mas a sua carreira está recheada de obras indispensáveis como “Fahrenheit 451” (1966), “Far from the Madding Crowd” (1967), “Petulia” (1968),  “McCabe & Mrs. Miller” (1971), “The Go-Between” (1971), “Don't Look Now” (1973), “Demon Seed” (1977), “The Return of the Soldier” (1982), “Heat and Dust” (1983), “ Power” (1986), “Afterglow” (1997) ou  “Away from Her” (2008).
Foi nomeada quatro vezes para o Oscar de Melhor Actriz, ganhando em 1966, com “Darling”. Nomeada ainda em 1972 (“McCabe and Mrs. Miller”), 1998 (“Afterglow”) e 2008 (“Away from Her”). Foi Globo de Ouro, em 2008, com “Away from Her”, e contou com várias outras nomeações. O mesmo filme valeu-lhe os prémios da Screen Actors Guild e da National Board of Review, que antes já a havia consagrado em 1965, por “Darling” e “Doctor Zhivago”. “Afterglow”, em 1998, valeu-lhe ainda o Independent Spirit Award. Presença regular nos BAFTAS (em 1964, 67, 73, 74), ganhou em 1966, com “Darling”.
Outros relacionamentos célebres foram com Terence Stamp e Donald Sutherland, mas o mais duradouro foi com Duncan Campbell, um jornalista do “The Guardian”, que data dos anos 70 e acabou em casamento em 2007. Julie Christie, feminista, é igualmente activa defensora do ambiente e dos animais, lutando contra armas nucleares, e defendendo a causa da Palestina.


Filmografia

Como actriz: 1961: A for Andromeda (TV); Call Oxbridge 2000 (TV); 1962: The Fast Lady (A Respeitável Carcaça), de Ken Annakin; The Andromeda Breakthrough (TV); 1962: Crooks Anonymous (Agarra que é Ladrão!), de Ken Annakin; 1963: Billy Liar (O Jovem Mentiroso), de John Schlesinger; O Santo (TV); ITV Play of the Week (TV); 1965: Doctor Zhivago (Doutor Jivago), de David Lean; Darling (Darling), de John Schlesinger; Young Cassidy (O Jovem Cassidy), de John Ford; 1966: Fahrenheit 451 (Grau de Destruição), de François Truffaut; 1967: Far from the Madding Crowd (Longe da Multidão), de John Schlesinger; 1968: Petulia (Petulia), de Richard Lester; 1970: The Go-Between (O Mensageiro), de Joseph Losey; In Search of Gregory (Convite ao Pecado), de Peter Wood; 1971: McCabe & Mrs. Miller (A Noite Fez-se Para Amar), de Robert Altman; 1973: Don't Look Now (Aquele Inverno em Veneza), de Nicolas Roeg; 1975: Shampoo (Shampoo), de Hal Ashby; 1977: Demon Seed (A Semente do Demónio), de Donald Cammell; 1978: Heaven can Wait (O Céu Pode Esperar), de Warren Beatty; 1981: Memoirs of a Survivor (Memórias de Uma Sobrevivente), de David Gladwell; 1982: Les Quarantièmes Rugissants, de Christian de Chalonge; The Return of the Soldier (O Regresso do Soldado), de Alan Bridges; 1983: Heat and Dust (Verão Indiano), de James Ivory; Separate Tables (TV); The Gold Diggers, de Sally Potter; 1986: Miss Mary, de María Luisa Bemberg; 1986: Power (As Chaves do Poder), de Sidney Lumet; 1986: Väter und Söhne - Eine deutsche Tragödie (TV); 1986: Champagne Amer, de Ridha Behi, Henri Vart; 1988: Dadah Is Death (TV); 1990: Fools of Fortune (Anos de Fogo), de Pat O’ Connor; 1992: The Railway Station Man (TV); 1996: Dragonheart (DragonHeart: Coração de Dragão), de Rob Cohen; 1996: Hamlet (Hamlet), de Kenneth Branagh; 1996 Karaoke (TV); 1997: Afterglow (Sol do Poente), de Alan Rudolph; 2000: The Miracle Maker – The Story of Jesus; 2001: Belphégor, le Fantôme du Louvre, de Jean-Paul Salomé; 2001: No Such Thing, de Hal Hartley; 2002: Snapshots, de Rudolf van den Berg; I’m with Lucy, de Jon Sherman; 2004: Troy (Tróia), de Wolfgang Petersen; Harry Potter and the Prisoner of Azkaban (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban), de Alfonso Cuarón; Finding Neverland (À Procura da Terra do Nunca), de Marc Forster; 2005: The Secret Life of Words (A Vida Secreta das Palavras), de Isabel Coixet; 2006: Away from Her (Longe Dela), de Sarah Polley; 2009: Glorious 39 (Os Gloriosos 39), de Stephen Poliakoff; 2009: New York, I Love You (episódio de Shekhar Kapur); 2011: Red Riding Hood (A Rapariga do Capuz Vermelho), de Catherine Hardwicke; 2012: The Company You Keep (Regra de Silêncio), de Robert Redford.

11 DE AGOSTO DE 2015


OS CHAPÉUS-DE-CHUVA DE CHERBOURG 
(1964)

“Os Chapéus-de-chuva de Cherbourg” representa uma experiência muito rara no cinema, sobretudo se nos referirmos a tudo o que fica para trás relativo a 1864. Depois, o próprio Jacques Demy terá voltado a este estilo noutros filmes. Aliás, todo o cinema de Demy, um dos cineastas franceses que acompanharam o desenvolvimento da “nouvelle vague”, no final dos anos 50, início dos de 60, é uma curiosa e inédita mescla de realidade e fantasia, com a música a desempenhar um papel aglutinador essencial em muitas das suas obras.  “Os Chapéus-de-chuva de Cherbourg” iniciaram esta tendência com uma fabulosa partitura musical de Michel Legrand que acompanha todo o filme, um pouco na linha da ópera que não deixa de ser citada (Geneviève Emery e Guy Foucher, o par amoroso desta obra vão mesmo à ópera assistir a uma representação de “Carmen”).
Para os que gostam de musicais, este é um filme indispensável. Para os que não gostam de musicais, o melhor será não perder este título, pois ele é um musical muito diferente, digamos que um musical europeu, prolongando de certa forma o musical anglo-saxão, mas insuflando-lhe novo folego. Uma boa oportunidade para mudar de opinião, portanto. Para os que gostam de ópera este é um teste a não perder igualmente, uma espécie de opereta dos tempos modernos (enfim, dos anos 60 do século passado). Para os adeptos de histórias de amor e de melodramas, “Os Chapéus-de-chuva de Cherbourg” é um excelente exemplo a explorar. Para os que gostam de filmes sociais, este é um deles, acompanhado por partitura musical (cumpre informar que Jacques Demy empreendeu, anos depois, em 1982, uma experiência limite neste campo, ao dirigir “Um Quarto na Cidade”, outro filme integralmente musicado e cantado tendo como tema greves e conflitos laborais em França).
A carreira de Jacques Demy não foi muito longa nem permitiu uma filmografia extensa. Além dos títulos já referidos, há a citar ainda a sua magnífica primeira longa-metragem, o poético e deslumbrante “Lola” (1961) e o excelente “A Grande Pecadora” (1963). Depois de “Os Chapéus-de-chuva de Cherbourg” volta a dirigir Catherine Deneuve, ao lado da sua irmã Françoise Dorleac, em “As Donzelas de Rochefort” (1967), que mantem o estilo musical. Seguem-se “A Princesa com Pele de Burro” (1970) e “A Flauta Mágica” (1972). Nascido a 5 de Junho de 1931, Demy viria a falaecer a 27 de Outubro de 1990, em Paris, ao que se julga vítima de SIDA. Era casado com Agnés Varda.


Geneviève Emery  (Catherine Deneuve) e Guy Foucher (Nino Castelnuovo) são jovens em 1958 e amam-se. Ela tem 17 anos e é filha de Madame Emery (Anne Vernon), dona de uma loja de chapéus-de-chuva em Cherbourg. Ele já passou os 20 anos, é operário numa oficina de automóveis, e está à espera de ser chamado para a tropa, numa altura em que a guerra da Argélia estava ao rubro. Madame Emery não vê com bons olhos este romance, e entretanto surge um outro pretendente, Roland Cassard (Marc Michel), muito mais condizente com os predicados pretendidos pelas convenções: um homem endinheirado, bem-posto e bem instado na vida no comércio das pedras preciosas, e que ama Geneviéve sem sombra de dúvida. O filme está dividido em três partes, que acompanham o percurso de Guy: Partida (1958), Ausência (1959 e Regresso (1963). A guerra da Argélia é um tema presente em todo o filme, marcado o compasso da obra. Tudo acontece como acontece porque a guerra existe. Tudo se desenrola segundo leis inflexíveis porque imperam preconceitos e porque no amor nem sempre o que deve ser é, mas sim o que pode ser. Não se vive consoante se gostaria de viver, mas como se deve viver, tendo em conta um determinado número de condicionalismos. Esta não é a ideia de Jacques Demy, mas a crítica implícita que ele formula em relação á sociedade francesa de inícios da década de 60.
O filme não é só não-realista pela presença obsessiva da música, mas também por toda a sua composição plástica, onde sobressaem os cenários, todos eles decorados de forma garrida, com uma presença de cores dominantes impressionantes. São as paredes interiores, forradas a papel com desenhos e tonalidades invulgares, são as paredes exteriores que acompanham esta forma de combinar a expressividade dos cenários com a expressividade das acções e dos diálogos, definindo a dramaticidade de cada cena ou sequência. O filme termina em pleno Natal de 1963, e a presença da neve é outro elemento que Demy aproveita em favor do clima pretendido.
Enfim, uma obra-prima, com uma banda sonora que não se esquece, e uma Catherine Deneuve, em início de carreira, deslumbrante.

OS CHAPÉUS-DE-CHUVA DE CHERBURGO
Título original: Les parapluies de Cherbourg
Realização: Jacques Demy (França, RFA, 1964); Argumento: Jacques Demy; Produção: Mag Bodard, Gilbert de Goldschmidt, Pierre Lazareff; Música: Michel Legrand; Fotografia (cor): Jean Rabier; Montagem: Anne-Marie, Monique Teisseire; Design de produção: Bernard Evein; Guarda-roupa: Jacqueline Moreau; Maquilhagem: Christine Fornelli; Direcção de Produção: Charles Chieusse, Philippe Dussart, Maurice Urbain; Assistentes de realização: André Flédérick, Klaus Müller-Laue, Jean-Paul Savignac; Departamento de arte: Maurice Bourbotte, Jean Didenot, Joseph Gerhard, Claude Pignot; Som: François Musy; Companhias de produção: Parc Film, Madeleine Films, Beta Film; Intérpretes: Catherine Deneuve (Geneviève Emery), Nino Castelnuovo (Guy Foucher), Anne Vernon (Madame Emery), Marc Michel (Roland Cassard), Ellen Farner (Madeleine), Mireille Perrey (Tia Élise), Jean Champion (Aubin), Pierre Caden (Bernard), Jean-Pierre Dorat (Jean), Bernard Fradet, Michel Benoist, Philippe Dumat, Dorothée Blanck, Jane Carat, Harald Wolff, Danielle Licari, José Bartel, Christiane Legrand, Georges Blaness, Claudine Meunier, Claire Leclerc, Patrick Bricard, Jacques Camelinat, François Charet, Jean-Pierre Chizat, Jacques Demy (um cliente), Bernard Garnier, Gisèle Grandpré, Hervé Legrand,  Michel Legrand (Jean, voz a cantar), Myriam Michelson, Paul Pavel, Roger Perrinoz, Rosalie Varda, etc. Duração: 91 minutos; Distribuição em Portugal: Costa do Castelo Filmes (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos.


CATHERINE DENEUVE (1943 - )
Catherine Fabienne Dorléac nsceu a 22 de Outubro de 1943, em Paris, França. O gosto pela representação aprendeu-o eu casa. O pai era um actot, Maurice Dorleác, e teve uma irmã, falecida muito precocemente, Françoise Dorléac, que era igualmente actriz. Chegaram a representar juntas, em “Les Demoiselles, de Rochefort”. Deneuve estreou-se no cinema aos 13 anos, em 1956, e durante a adolescência trabalhou em diversos pequenos filmes com o diretor Roger Vadim q               eu a lançou e com quem teve uma relação amorosa, de que resultou um filho, Christian Vadim. Mas foi em 1964, em Os Guarda Chuvas do Amor, de Jacques Demy, que Catherine Deneuve se afirmou definitivamente como uma das maiores actrizes francesas, reputação que foi mantendo dai até hoje. Entre 1965 e 1972, foi casada com o fotógrafo inglês David Bailey, o mesmo que haveria de inspirar Antonioni para o seu filme “Blow Up”. Conhece-se ainda uma outra relação importante, com o actor italiano Marcello Mastroianni, com quem teve uma filha, Chiara Mastroianni, em 1972. A sua carreira como interprete é uma sucessão de triunfo, derigida por grandes cineastas de todo o mundo, como Luis Buñuel, em “A Bela do Dia”, ou Roman Polanski., em “Repulsa”, ainda nos anos 60. Mas Luis Buñuel, François Truffaut, Jacques Demy, Lars von Trier, Tony Scott, Stuart Rosenberg, Marco Ferreri, Jean-Pierre Melville, Robert Aldrich, Jean-Paul Rappeneau, Claude Lelouch, Dino Risi, Raoul Ruiz, Alain Corneau ou André Téchiné, foram alguns dos mais notáveis cineastaa com quem cruzou a sua carrera. De André Téchiné tornou-se mesmo uma espécie de actriz fetichae aparecendo em diversas obras deste que é considerado um dos mais significativos cineastas da actualidade francesa. Um dia terá declarado que gostaria de trabalhar com Manoel de Oliveira e este fez-lhe a vontade por diversas ocasiões, a começar por “O Convento”.
Como símbolo de uma beleza elegante, aparentemente fria e distante, misteriosa no seu íntimo, Deneuve foi aproveitada para estar associada a grandes nomes da moda e dos perfumes. Foi um rosto do estilista Yves Saint Laurent e deu igualmente a cara pelos perfumes Chanel Nº 5, o mais vendido e famoso perfume do mundo por mais de duas décadas. Continuou ligada à publicidade, com Louis Vuitton ou os cosméticos Mac. Ganhou três Cesars para a Melhor Actriz Francesa, esteve nomeada para um Oscar por “Indochina”, que acabaria por ganhar o Oscar de Melhor Filme em Língua não inglesa, ganhou um BAFTA, ganhou o Festival de Cannnes e o de Veneza, e obteve um retumbante sucesso de público e critica com “8 Mulheres”, em 2002, ao lado de algumas das maiores atrizes francesas da altura, como Fanny Ardant e Emmanuelle Béart.


Filmografia:

Como actriz: 1956: Les Collégiennes, de André Hunebelle; 1960: Les portes claquent, de Jacques Poitrenaud, Michel Fermaud; L'Homme à femmes (Homens e Mulheres), de Jacques-Gérard Cornu; 1961: Les Parisiennes, de Marc Allégret (episódio “Sophie”); Ça c'est la vie, de Claude Choubier (curta-metragem); 1962: Les Petits Chats, de Jacques R. Villa; Et Satan conduit le bal, de Grisha M. Dabat; Le Vice et la Vertu, de Roger Vadim; 1963: Vacances portugaises ou Les Egarements (Os Sorrisos do Destino), de Pierre Kast; Les Plus Belles Escroqueries du monde (As Mais Belas Vigarices do Mundo), de Claude Chabrol (episódio “L'homme qui vendit la tour Eiffel”); 1964: Les Parapluies, de Cherbourg (Os Chapéus de Chuva de Cherburgo), de Jacques Demy; La Chasse à l'homme (Caça ao Homem), de Édouard Molinaro; Un monsieur de compagnie (Nasceu para seduzir), de Philippe, de Broc; La costanza della ragione, de Pasquale Festa Campanile; 1965: Le Chant du monde (Rudes Paixões), de Marcel Camus; Répulsion (Repulsa), de Roman Polanski; La Vie de château (Escândalo no Castelo), de Jean-Paul Rappeneau; Das Liebeskarussell (Engano Matrimonial), de Rolf Thiele (episódio “Angéla”); 1966: Les Créatures (Páginas Íntimas), de Agnès Varda; 1967: Les Demoiselles, de Rochefort (As Donzelas de Rochefort), de Jacques Dem; Belle de jour (A Bela de Dia), de Luis Buñuel; Benjamin ou les Mémoires de un puceau, de Michel Deville; Manon 70, de Jean Aurel; 1968: La Chamade (A Chamada), de Alain Cavalier; Mayerling (Mayerling), de Terence Young; Vienna: The years remembered, de Jay Anson (curta-metragem); La Sirène du Mississipi (A Sereia do Mississípi), de François Truffaut; 1969: April fools (Os Loucos do Amor), de Stuart Rosenberg; 1970: Tristana (Tristana, Amor Perverso), de Luis Buñuel; Peau de âne (A Princesa com Pele de Burro), de Jacques Demy; 1971: Ça n'arrive qu'aux autres (A Longa Jornada), de Nadine Trintignant; 1971: La Cagna (Liza, a Submissa), de Marco Ferreri; 1972: Un flic (Cai a Noite Sobre a Cidade), de Jean-Pierre Melville; L'Événement le plus important depuis que l'homme a marché sur la Lune (O acontecimento mais importante desde que o homem chegou à Lua), de Jacques Demy; Henri Langlois, de Elia Herson e Roberto Guerra (documentário); Le Dernier Cri des Halles, de Monique Aubert (documentário); 1973: Touche pas à la femme blanche! (Não Toques na Mulher Branca), de Marco Ferreri; 1974: Fatti di gente perbène (Histórias de Gente Bem), de Mauro Bologni; Zig-Zig, de László Szabó; La Femme aux bottes rouges, de Juan Luis Buñuel; L'Agression (A Agressão), de Gérard Pirès; 1975: Hustle (A Cidade dos Anjos), de Robert Aldrich; 1975: Le Sauvage (Meu Irresistível Selvagem), de Jean-Paul Rappen; 1976: Si c'était à refaire (Voltar a viver), de Claude Lelouch; Coup de foudre, de Robert Enrico (inacabado); 1976: Anima persa (Almas Perdidas), de Dino Risi; 1977: March or die ()A Legião Estrangeira, de Dick Richards; Casotto (Domingo na Praia), de Sergio Citti; 1978: L'Argent des autres (O Dinheiro dos Outros), de Christian, de Chalonge; 1978: Écoute voir, de Hugo Santiago; Ils sont grands, ces petits, de Joël Santoni; 1979: À nous deux (Uma Aventura para Dois), de Claude Lelouch; Courage fuyons (Coragem Fujamos), de Yves Robert; 1980: Le Dernier Métro (O Último Metro), de François Truffaut; Je vous aime (Os homens Que Eu Amei), de Claude Berri; 1981: Le Choix des armes (A Escolha das Armas), de Alain Corneau; Hôtel des Amériques (O Segredo do Amor), de André Téchiné; Reporters, de Raymond Depardon (documentário); 1982: Le Choc (Fuga para a Felicidade), de Robin Davis; 1983: L'Africain (Os Largos Horizontes da Aventura), de Philippe, de Broca; The Hunger (Fome de Viver), de Tony Scott; 1984: Le Bon Plaisir, de Francis Girod; Fort Saganne (Forte Saganne - O Herói do Deserto), de Alain Corneau; Paroles et musique (Letra e Música), de Élie Chouraqui; 1985: Speriamo che sia femmina (Oxalá Seja Menina!), de Mario Monicelli; 1986: Le Lieu du crime (O Local do Crime), de André Téchiné; Norma Jean, dite Marilyn Monroe57, de André Romus e Marcia Lerner (Documentário, Comentário); 1987: Agent trouble, de Jean-Pierre Mocky; 1987: Drôle de endroit pour une rencontre, de François Dupeyron; 1988: Fréquence meurtre (Frequência morte), de Élisabeth Rappeneau; 1989: Frames from the edge: Helmut Newton), de Adrian Maben (documentário); 1990: La Reine blanche, de Jean-Loup Hubert; 1991: Contre l'oubli (filme colectivo) (episódio “Pour Febe Elisabeth Velasquez”), de Chantal Akerman; 1992: Indochine (Indochina), de Régis Wargnier; 1993: Ma saison préférée (A Minha Estação Preferida), de André Téchiné; Les demoiselles ont eu 25 ans, de Agnès Varda (documentário); 1994: La Partie, de échecs, de Yves Hanchar; 1995: Les Cent et Une Nuits, de Simon Cinéma, de Agnès Varda; 1995: Le Couvent (O Convento), de Manoel, de Oliveira; 1995: L'Univers, de Jacques Demy, de Agnès Varda (documentário); N'oubliez jamais (en) - clip -, de Joe Cocker; 1996: Court toujours: L'Inconnu, de Ismaël Ferroukhi (curta-metragem, TV); Généalogies, de un crime (Genealogias de um Crime), de Raoul Ruiz; Les Voleurs (Os Ladrões), de André Téchiné; 1997: Pierre and Gilles: Love Stories, de Mike Aho (curta-metragem); Sans titre, de Leos Carax (curta-metragem); 1998: Place Vendôme, de Nicole Garci; 1999: Pola X (Pola X), de Leos Carax; Belle-maman, de Gabriel Aghion; Le Vent, de la nuit, de Philippe Garrel; Est-Ouest (Vida Prometida), de Régis Wargnier; Le Temps retrouvé (O Tempo Reencontrado), de Raoul Ruiz; The Book That Wrote Itself, de Liam O'Mochain; 2000: Dancer in the Dark (Dancer in the Dark), de Lars von Trie; Von Trier's: 100 ojne, de Katia Forbert (documentário); 2001: Huit femmes (8 Mulheres), de François Ozon; The Musketeer (O Mosqueteiro), de Peter Hyams; Le Petit Poucet, de Olivier Dahan; Je rentre à la maison (Vou para casa), de Manoel, de Oliveira; Absolument fabuleux, de Gabriel Aghion; Clouds: letters to my son, de Marion Hänsel (documentário, narração); 2002: Au plus près du paradis, de Tonie Marshall;  The Kids Stays in the Picture, de Nanette Burstein (documentário); Yves Saint-Laurent, 5 avenue Marceau 75116 Paris, de David Téboul (documentário); 2003: Un film parlé (Um filme falado), de Manoel, de Oliveira; Princesse Marie, de Benoît Jacquot (TV); Les Liaisons dangereuses, de Josée Dayan (TV); Le Génie français, de Josée Dayan e David Jankoswski (TV); 2004: Les Temps qui changent (Os Tempos que Mudam), de André Téchiné; Rois et Reine (Reis e Rainha), de Arnaud Desplechin; 2005: Palais Royal! (Dondoca à Força), de Valérie Lemercier; 2006: Le Concile de pierre (O Concílio de Pedra), de Guillaume Nicloux; Le Héros, de la famille, de Thierry Klifa; Nip/Tuck, de Charles Haid (TV); 2007: Après lui, de Gaël Morel; Persepolis, de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi (voz); Frühstrück mit einer Unbekannten, de Maria Von Heland (TV); 2008: Un conte, de Noël (Um Conto de Natal), de Arnaud Desplechin; Mes stars et moi (As Minhas Estrelas), de Lætitia Colombani; Je veux voir (Eu Quero Ver), de Khalil Joreige e Joana Hadjithomas; Figures imposées, de Julien Doré (clip); 2009: Cyprien, de David Charhon; La Fille du RER, de André Téchiné; Bancs publics (Versailles Rive-Droite), de Bruno Podalydès; Mères et filles, de Julie Lopes-Curval; Lettre à Anna, de Eric Bergkrau (documentário, narração); 2010: L'Homme qui voulait vivre sa vie (Em Busca de Uma Nova Vida), de Éric Lartigau; Potiche (Potiche - Minha Rica Mulherzinha), de François Ozon; 2011: Les Yeux, de sa mère, de Thierry Klifa; Les Bien-Aimés (Os Bem-Amados), de Christophe Honoré; 2012: Astérix et Obélix: Au service, de sa Majesté (Astérix & Obélix: Ao Serviço de Sua Majestade), de Laurent Tirard; Les Lignes, de Wellington (Linhas de Wellington), de Raoul Ruiz e Valeria Sarmiento; As Linhas de Torres Vedras, de Raoul Ruiz e Valeria Sarmiento (TV); O Theos agapaei to haviari, de Yannis Smaragdis; 2013: Elle s'en va (Ela Está de Partida), de Emmanuelle Bercot; 2014: Dans la cour, de Pierre Salvadori; L'Homme que l'on aimait trop (O Homem Demasiado Amado), de André Téchiné; Trois cœurs (3 Corações), de Benoît Jacquot; 2015: La Tête haute59, de Emmanuelle Bercot; Le Tout Nouveau Testament, de Jaco Van Dormael.

5 DE AGOSTO DE 2015


IRMA LA DOUCE (1963)

Billy Wilder é definitivamente um dos maiores realizadores que cresceram no cinema norte-americano. Nascido ainda no tempo do Império Austro-húngaro, em 1906, numa localidade que hoje pertence à Polónia, e falecido em Los Angeles em 2002, Billy Wilder parecia destinado a uma carreira de advogado em Viena, quando foi apanhado pelo jornalismo, viajando depois para Berlim. Começou a carreira no cinema como argumentista, e, tendo em conta a sua ascendência judaica, achou melhor emigrar depois de Hitler chegar ao poder. Em Hollywood, apesar de não dominar o inglês, vingou rapidamente, inicialmente a escrever argumentos com Charles Brackett. Foram autores de comédias como “Ninotchka” (1939) ou “Bola de Fogo” (1941). A carreira prosseguiu sempre com obras de reconhecida valia, como “Cinco Covas no Egipto” (1943), “Pagos a Dobrar” (1944) “Farrapo Humano” (1945), “Crepúsculo dos Deuses” (1950), “O Grande Carnaval” (1951), “O Pecado Mora ao Lado” (1955), “Quanto Mais Quente Melhor” (1959), “O Apartamento” (1960) ou “Irma La Douce” (1963) todas elas com vários prémios no activo e sendo consideradas das melhores que a cinematografia mundial produziu nesse período.
Bateu-se bem em quase todos os géneros, marcando uma sólida posição de autor, mas foi na comédia que terá levado mais longe algumas das suas características, um humor cáustico, irreverente para com as instituições, moralmente cínico, algo perverso, mesmo quando o fundo é de uma invejável moralidade. Bom-vivant, isso mesmo fica testemunhado nas suas películas, onde se enfatizam os prazeres da vida. “Irma, La Douce” é um bom exemplo.
O argumento é do próprio Billy Wilder, de colaboração com I.A.L. Diamond, que adaptam uma peça teatral de Alexandre Breffort. Como em muitas outras obras de Billy Wilder, esta é uma história que vive do disfarce, de alguém a fazer-se passar por outro. A acção passa-se em Paris, num bairro popular, uma rua bem povoada de prostitutas, um café/taberna onde se encontram os chulos a jogar enquanto esperam que as raparigas lhes tragam da rua a mesada, uma pensão de grande rotação, a azáfama de todos os dias e de todas as noites, os polícias de giro que fecham os olhos e arrecadam as gorjetas no chapéu deixado sobre o banco, tudo a correr sobre rodas até ao dia em que aparece um novo polícia, Nestor Patou (Jack Lemmon), que desconhece as regras do jogo e resolve actuar segundo os regulamentos e a moral instituída. Claro que não resulta bem, será expulso da polícia e, com alguma sorte pelo seu lado, acaba por ser designado o nº 1 da associação dos chulos do bairro e terá como prémio Irma, La Douce, a prostituta preferida da zona. Mais coisa, menos coisa e muitos ciúmes pelo meio, Nestor acaba por se transformar em Lord X, que todas as semanas desce de Londres à cidade para estar com Irma e ofertar-lhe 500 francos a troco de um jogo de cartas por noite. Não interessa aprofundar mais a intriga, este início já dá para perceber que não é pelas boas práticas que se chega ao céu e há que saber viver numa sociedade onde todos traficam. Só não evolui na vida quem não se adapta às normas vigentes, que não são morais, nem justas, mas são as que há e as que melhor rendem no mercado. O ingénuo bem-intencionado é expulso desta sociedade, mas se resolve aderir aos maus costumes passa a number one.


A crítica de Billy Wilder não pode ser mais contundente, o seu humor é deliciosamente perverso, a direcção do filme desenvolve um cómico de situação e de diálogo cheio de subtendidos, mas sempre de uma elegância e subtileza de realçar. Todo o quadro de Paris boémio é magnífico de autenticidade, apesar de rodado quase sempre em estúdio, nos EUA, e a construção de personagens e de situações, deliciosa. Há um gag, um entre muitos possíveis de citar, memorável. O dono do café, sempre que há uma troca de argumentos mais violenta, vai buscar o sifão para reanimar o cliente entorpecido, lançando-lhe um jacto de água à distância. A prática torna-se de tal forma vulgar que às tantas já são os clientes a servirem-se do sifão. De resto, a engenhosa troca de Nestor por Lord X, com recurso a um elevador monta-cargas é igualmente deliciosa. Uma grande comédia que permite aos actores trabalhos condizentes. Jack Lemmon é, como sempre, brilhante, ele que foi um fiel colaborador de Wilder, e Shirley MacLaine mostra-se num dos grandes papéis da sua carreira. Aqui merecedor de mais uma nomeação para o Oscar de Melhor Actriz. Uma notável comédia de um mestre.

IRMA LA DOUCE
Título original: Irma la Douce
Realização: Billy Wilder (EUA; 1963); Argumento: Billy Wilder, I.A.L. Diamond, segundo peça de teatro de Alexandre Breffort; Produção: Edward L. Alperson, I.A.L. Diamond, Doane Harrison, Billy Wilder, Alexandre Trauner; Música: André Previn; Fotografia (cor): Joseph LaShelle; Montagem: Daniel Mandell; Casting: Lynn Stalmaster; Direcção artística: Alexandre Trauner; Decoração: Maurice Barnathan, Edward G. Boyle; Guarda-roupa: Orry-Kelly; Maquilhagem: Emile LaVigne, George Masters, Alice Monte, Harry Ray, Frank Westmore; Direcção de Produção: Allen K. Wood; Assistentes de realização: Hal W. Polaire, Christian Ferry; Departamento de arte: Frank Agnone, Arden Cripe, Hub Braden, Harold Michelson; Som: Gilbert D. Marchant, Robert Marti; Efeitos especiais: Milt Rice; Companhias de produção: The Mirisch Corporation, Phalanx Productions; Intérpretes: Jack Lemmon (Nestor Patou / Lord X), Shirley MacLaine (Irma La Douce), Lou Jacobi (Moustache), Bruce Yarnell (Hippolyte), Herschel Bernardi (Insp. Lefevre), Hope Holiday (Lolita), Joan Shawlee (Amazon Annie), Grace Lee Whitney (Kiki, a cossaca), Paul Dubov (Andre), Howard McNear, Cliff Osmond, Diki Lerner, Herb Jones, Ruth Earl, Jane Earl, Tura Satana, Lou Krugman, James Brown, Bill Bixby, John Alvin, Susan Woods, Harriette Young, Sheryl Deauville, Billy Beck, Jack Sahakian, Edgar Barrier, James Caan (soldao com rádio), Don Diamond, Paul Frees, Joe Gray, Louis Jourdan (Narrador), Ralph Moratz, Moustache, Doye O'Dell, Joe Palma, Richard Peel, etc. Duração: 147 minutos; Distribuição em Portugal: MGM (DVD); Classificação etária: M/ 12 anos; Data de estreia em Portugal: 27 de Junho de 1974.


SHIRLEY MACLAINE (1934 - ?)
Shirley MacLaine, cujo nome de baptismo é Shirley MacLean Beaty, nasceu a 24 de Abril de 1934, em Richmond, Virginia, EUA. Filha de Ira Owens Beaty, um músico de origem irlandesa, e de Kathlyn Corinne MacLean, bailarina canadiana; irmã do actor e realizador Warren Beatty; casada, desde 1954 até 1982, com o realizador e produtor Steve Parker, Shirley iniciou-se como aluna de bailado na Washington School of Ballet. Diplomada, passou a viver em Nova Iorque, onde começa a aparecer em musicais da Broadway, como no sucesso de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, "Me and Juliet" e, seguidamente, em "The Pajama Game", sendo posteriormente convidada pelo produtor Hal B. Wallis para viajar até Hollywood, onde se estreia em “O Terceiro Tiro”, de Alfred Hitchcock (1955). Surge noutros filmes, como na superprodução “A Volta ao Mundo em Oitenta Dias” (1956), ou no excelente “Deus Sabe Quanto Amei”, de Minnelli (1958), onde recebe a primeira nomeação para o Oscar de Melhor Actriz. Em 1960, volta a ser nomeada por “O Apartamento”, e pouco depois, terceira nomeação por “Irma la Douce” (1963). In 1969, dirigida pelo amigo Bob Fosse, interpreta um musical, “Sweet Charity - A Rapariga que Queria Ser Amada”. Estreia-se como realizadora em 1975, com um documentário, rodado na China, “ The Other Half of the Sky: A China Memoir”, que é nomeado para o Oscar da categoria. Como actriz, nova nomeação em 1977, com “A Grande Decisão”. Finalmente ganha o Oscar de Melhor Actriz com “Laços de Ternura” (1983), e arrebata o Festival de Veneza com “Madame Sousatzka, a Professora” (1988). Depois de muitos outros sucessos, regressa à realização em 1998, com uma ficção, “Bruno” (2000). Entretanto, apareceu em diversas séries de televisão e telefilmes. Em 2015 tem em pré-produção alguns trabalhos. Shirley conta com uma Estrela no Hall of Fame, de Hollywood, em 1615 Vine Street.


Filmografia:
Como Actriz / Cinema: 1955: The Trouble with Harry (O Terceiro Tiro), de Alfred Hitchcock; Artists and Models (Pintores e Raparigas), de Frank Tashlin; 1956: Around the World in Eighty Days (A Volta ao Mundo em 80 Dias), de Michael Anderson; 1958: The Sheepman (O Irresistível Forasteiro), de George Marshall; The Matchmaker (Viva o Casamento), de Joseph Anthony; Hot Spell (Feitiço Ardente), de Daniel Mann; Some Came Running (Deus Sabe Quanto Amei), de Vincente Minnelli; 1959: Ask Any Girl (O Que Elas Querem é Casar), de Charles Walters; Career (Os Caminhos da Ambição), de Joseph Anthony; 1960: Can-Can (Can-Can), de Walter Lang; The Apartment (O Apartamento), de Billy Wilder; Ocean's Eleven (Os Onze de Oceano), de Lewis Milestone; 1961: All in a Night's Work (A História daquela Noite), de Joseph Anthony; Two Loves (Dois Amores), de Charles Walters; The Children's Hour (A Infame Mentira), de William Wyler; 1962: My Geisha (A Minha Gueixa), de Jack Cardiff; Two for the Seesaw (Baloiço Para Dois), de Robert Wise; 1963: Irma la douce (Irma la Douce), de Billy Wilder; 1964: What a Way to Go ! (Ela e os Seus Maridos), de J. Lee Thompson; The Yellow Rolls-Royce (O Rolls-Royce Amarelo), de Anthony Asquith; 1965: John Goldfarb, Please Come Home (Um Americano no Harém), de J. Lee Thompson; 1966: Gambit (Ladrão Roubado), de Ronald Neame; 1967: Woman Times Seven (Sete Vezes Mulher), de Vittorio de Sica; 1968: The Bliss of Mrs. Blossom (A Felicidade da Senhora Blossom), de Joseph McGrath; 1969: Sweet Charity (Sweet Charity - A Rapariga que Queria Ser Amada), de Bob Fosse; 1970: Two Mules for Sister Sara (Os Abutres Têm Fome), de Don Siegel; 1971: Desperate Characters (Um Casal Desesperado), de Frank D. Gilroy; 1972: The Possession of Joel Delaney (A Obsessão de Joel Delaney), de Waris Hussein; 1977: The Turning Point (A Grande Decisão), de Herbert Ross; 1979: Being There (Bem-Vindo Mr. Chance), de Hal Ashby; 1980: Loving Couples (Amigos e Amantes), de Jack Smight; A Change of Seasons (A Aluna e o Professor), de Richard Lang; 1983: Terms of Endearment (Laços de Ternura), de James L. Brooks; 1984: Cannonball Run II (A Corrida Mais Louca do Mundo II), de Hal Needham; 1988: Madame Sousatzka (Madame Sousatzka, a Professora), de John Schlesinger; 1989: Steel Magnolias (Flores de Aço), de Herbert Ross; 1990: Waiting for the Light, de Christopher Monger; Postcards from the Edge (Recordações de Hollywood), de Mike Nichols; 1992: Used People (Um Certo Outono), de Beeban Kidron; 1993: Wrestling Ernest Hemingway), de Randa Haines; 1994: Guarding Tess (O Agente Secreto), de Hugh Wilson; 1996: Mrs. Winterbourne (O Comboio do Destino), de Richard Benjamin; The Evening Star (Lágrimas ao Entardecer), de Robert Harling; 1997: A Smile Like Yours (Bebé por Encomenda), de Keith Samples; 2000: Bruno, de Shirley MacLaine; 2003: Carolina, de Marleen Gorris; 2005: Bewitched (Casei com uma Feiticeira), de Nora Ephron; In Her Shoes (Na Sua Pele), de Curtis Hanson; Rumor Has It (Dizem por Aí...), de Rob Reiner; 2007: Closing the Ring (O Elo do Amor), de Richard Attenborough; 2010: Valentine's Day (Dia dos Namorados), de Garry Marshall; 2011: Anyone's Son (Morre... e Deixa-me em Paz), de Danny Aiello; 2012: Bernie, de Richard Linklater; 2013: Mother Goose!; Elsa & Fred, de Michael Radford; The Locals; The Secret Life of Walter Mitty (A Vida Secreta de Walter Mitty), de Ben Stiller; 2015: Wild Oats, de Andy Tennant; Men of Granite, de Dwayne Johnson-Cochran (pré-produção); Jim Button, de Dennis Gansel (anunciado). 

Televisão: 1955: Shower of Stars (série de TV); 1958: The Sid Caesar Show (série de TV); 1971-1972: Shirley's World, de Ray Austin (série de TV); 1995: The West Side Waltz (A Valsa da Vida), de Ernest Thompson (telefilme); 1998: Stories from My Childhood (série de TV); 1999: Joan of Arc (Joana de Arc - A Donzela da Lorena), de Christian Duguay (telefilme); 2001: These Old Broads, de Matthew Diamond (telefilme); 2002: Hell on Heels: The Battle of Mary Kay, de Ed Gernon (telefilme); 2002: Salem Witch Trials, de Joseph Sargent (telefilme); 2008: Coco Chanel, de Christian Duguay (telefilme); 2008: Anne of Green Gables: A New Beginning, de Kevin Sullivan (telefilme); 2012-2013: Downton Abbey, de Julian Fellowes (série de TV); 2014: Glee (série de TV).
Como realizadora: 1975: The Other Half of the Sky: A China Memoir (documentário); 2000: Bruno.