quinta-feira, 10 de setembro de 2015

1 DE SETEMBRO DE 2015


OS CAVALOS TAMBÉM SE ABATEM (1969)

Sydney Pollack foi, inquestionavelmente, um dos cineastas mais interessantes entre os revelados na década de 60, nos EUA. Filmes como “A Flor à Beira do Pântano”, “Caçadores de Escalpes”, “As Brancas Montanhas da Morte”, “Os Três Dias do Condor”, “Yakusa”, “Bobby Deerfield”, “Tootsie” ou “África Minha” testemunham bem a importância da contribuição de Pollack. “Os Cavalos Também se Abatem” data de 1969 e é outro dos seus triunfos, desta feita adaptando um excelente romance de Horace McCoy, um dos grandes escritores norte-americanos no domínio do “romance negro”. Ambientado em plena época da Grande Depressão económica nos EUA, “They Shoot Horses, Don't They?” é um documento impressionante sobre este período, desenrolando-se quase toda a obra no interior de um recinto onde decorre uma maratona de dança, verdadeiramente inumana na forma como é sustentada pelos concorrentes, na mira de atingirem uma avultada maquia, prometida a quem consiga estar mais tempo a dançar de forma ininterrupta. 1.500 dólares na altura devia ser uma importância considerável. Vários mitos da América são aqui abordados de forma lúcida e vigorosa, desde o espírito de competição até ao “struggle for life”, passando pelo sonho da abastança e da terra prometida.
Estamos na Califórnia, o Eldorado americano, para onde se dirigiam todos os que fugiam da miséria e do desemprego. Como se viu em “As Vinhas da Ira”. Não só as condições atmosféricas ajudavam, como existia ali a fábrica de sonhos que acalentava a esperança de muitos, sobretudo os mais jovens, com a expectativa de serem “descobertos”. Numa vasta tenda, com uma pista central e bancadas para o muito público que irá acorrer ao longo de dias e dias, o show vai começar. Diz-se um concurso. São cerca de centena e meia de pares que irão dançar consecutivamente, com intervalos de 10 minutos de duas em duas horas. O último par a resistir ganha a taluda. Há enfermeiras e médico que distribuirá aspirinas e pouco mais: “Pneumonia dupla é entre vocês e Deus”, anuncia o apresentador. “O relógio nunca pára.” “Se perderem o parceiro podem dançar durante 24 horas a solo, depois, se não arranjarem outro, serão desqualificados.”
Esta é “a maior maratona do mundo!”, que abre as portas da fama e da fortuna. “Sete refeições por dia” é também um bom argumento para muitos dos concorrentes. A dança inicia-se, primeiro em slow, depois mais agitado. Ao fim de 25 dias e de mais de 600 horas, já com muitos concorrentes pelo caminho, o teste de energia e resistência: uma corrida à volta da pista, extenuante, desumana, para isolar os três últimos que serão desqualificados. “Não precisam de ser o número um na estrada da vida, mas não sejam o último”. O marujo já de certa idade que concorre afirma que já “trabalhou em barcos de gado e é mais ou menos a mesma coisa”.


“Negócio, estritamente negócio”, proclama o apresentador. “Este é o tipo de acontecimento que atrai muitas pessoas. Hoje vamos ter gente de Hollywood. Fala-se em Le Roy, na altura um dos grandes cineastas de Hollywood. A determinada altura, o par que está a granjear maior simpatia entre o público é chamado à parte e fazem-lhe a proposta: “Casam-se em público e podem ganhar 200 dólares. Se não quiserem continuar casados podem divorciar-se logo no dia seguinte”.
1200 horas de dança, outra corrida à volta da pista. A maratona aproxima-se do fim. A cada nova corrida, um pequeno canhão é trazido para a pista para dar o sinal de partida. Um símbolo bélico para tornar mais real esta guerra. Como fazer dinheiro com a miséria dos outros. Como assistir à desgraça pública de alguém, para tornar mais suportável a miséria própria. As galerias estão cheias durante os dias, à noite decresce a multidão, para regressar no dia seguinte, ávida de novidades dramáticas. Há quem desista, quem tenha alucinações, quem morra na pista, quem se ofereça, quem aspire por um tiro na cabeça. Afinal, “os cavalos também se abatem”.
Retrato implacável de uma realidade cruel e violenta, na terra do espectáculo. Onde tudo é espectáculo. Onde tudo se compra e se vende. Ou quase tudo.
Actores notáveis, técnicos inspirados, todos se reúnem para fazer desta obra uma cavalgada empolgante, de ritmo vertiginoso, pela sobrevivência e a afirmação pessoal. Gig Young foi Oscar de Melhor Actor Secundário, e o filme recebeu mais oito nomeações: Jane Fonda, Melhor Actriz; Susannah York, Melhor Actriz Secundária; Harry Horner e Frank R. McKelvy, Melhor Direcção Artística; Donfeld, Melhor Guarda-roupa; Fredric Steinkamp, Melhor Montagem; James Poe e Robert E. Thompson, Melhor Argumento Adaptado; Johnny Green e Albert Woodbury, Melhor Música; e Sydney Pollack, Melhor Realizador. Outros prémios e nomeações se multiplicaram. Este é seguramente um dos mais lancinantes retratos da América da Grande Depressão, quando o presidente Herbert Hoover exclamava que “a prosperidade está ao virar da esquina”.
O filme não perdeu nenhuma actualidade e as maratonas de dança agora são transmitidas pela televisão em novos formatos. Big Brother e muitas outras “casas” e “segredos” são agora o negócio, onde tudo se vende e tudo se compra.


OS CAVALOS TAMBÉM SE ABATEM
Titulo original: They Shoot Horses, Don’t They?
Realização: Sydney Pollack (EUA, 1969); Argumento: James Poe, Robert E. Thompson, segundo romance de Horace McCoy (“They Shoot Horses, Don’t They?”); Produção: Robert Chartoff, Johnny Green, Theodore B. Sills, Irwin Winkler; Fotografia (cor): Philip H. Lathrop; Montagem: Fredric Steinkamp; Casting: Lynn Stalmaster; Design de produção: Harry Horner; Decoração: Frank R. McKelvy; Guarda-roupa: Donfeld; Maquilhagem: Sydney Guilaroff, Frank McCoy; Direcção de produção: Edward Woehler; Assistentes de realização: Al Jennings, Joel Chernoff, Lynn Guthrie; Som: Norval D. Crutcher, Tom Overton, Tex Rudloff; Companhias de produção: American Broadcasting Company, Palomar Pictures; Intérpretes: Jane Fonda (Gloria Beatty), Michael Sarrazin (Robert Syverton), Susannah York (Alice LeBlanc), Gig Young (Rocky), Red Buttons (Harry ‘Sailor’ Kline), Bonnie Bedelia (Ruby), Michael Conrad (Rollo), Bruce Dern (James), Al Lewis, Robert Fields, Severn Darden, Allyn Ann McLerie, Madge Kennedy, Jacquelyn Hyde, Felice Orlandi, Art Metrano, Gail Billings, Lynn Willis, Maxine Greene, Mary Gregory, Robert Dunlap, Paul Mantee, Tim Herbert, Tom McFadden, Noble ‘Kid’ Chissel, etc. Duração: 120 minutos; Classificação etária: M/ 16 anos; Distribuição e Portugal (DVD): Cine Digital.


JANE FONDA (1937 - )
Lady Jayne Seymour Fonda é o nome de baptismo desta actriz que nasceu a 21 de Dezembro de 1937, em Nova Iorque, EUA. Os pais foram o actor Henry Fonda, um dos maiores da sua geração, e a muito conhecida Frances Seymour Brokaw, uma das presenças mais cobiçadas das festividades nova-iorquinas. Frances Seymour Brokaw suicidou-se quando Jane Fonda tinha 21 anos. Jane Fonda tem como irmão o também actor Peter Fonda e é tia de uma outra actriz, Bridget Fonda. Com esta família parecia escrita deste muito nova a carreia de Jane Fonda. Na verdade, estreia-se no teatro ao lado do pai, em 1954, numa produção teatral dirigida por Joshua Logan, "The Country Girl", no Omaha Community Theatre. Em 1958, já se encontra matriculada no Actors Studio, às ordens de Lee Strasberg. Em “Garota Apimentada” (1960) é de novo Joshua Logan que apadrinha desta feita a sua estreia no cinema, onde irá interpretar um importante conjunto de filmes, que merecerão dois Oscars da Academia de Hollywood, para “Klute” (1971) e “O Regresso dos Heróis” (1978), além de mais cinco nomeações em “Os cavalos Também Se Abatem” (1969), “Julia” (1977), “O Síndroma da China” (1979), “A Manhã Seguinte” (1986) e “A Casa do Lago” (1981).
Se a sua carreira profissional foi uma sucessão de sucessos, a sua vida emocional e as suas actividades políticas e sociais causaram profunda polémica. Foi casada com o realizador francês Roger Vadim (1965 - 1973), depois com o activista político Tom Hayden (1973 - 1990), finalmente com o produtor Ted Turner (1991 - 2001). Todos os casamentos terminaram em divórcios. Durante muitos anos dedicou-se a campanhas pelos direitos civis, pela emancipação da mulher ou contra a guerra do Vietname. Chegou a ser presa em 1970. No início da década de 80, iniciou uma nova cruzada, esta com base na aeróbica, publicando "Jane Fonda's Workout Book" e alguns vídeos que tiveram grande sucesso. Em 1995, a revista Empire publicou um inquérito sobre as “100 Sexiest Stars” e Jane Fonda aparece em 21º lugar. A mesma revista, dois anos depois, quis saber quais eram "The Top 100 Movie Stars of All Time" e Jane Fonda foi a 83ª da lista. A revista Première coloca-a, entretanto, em 32º lugar na sua lista das “Greatest Movie Stars of All Time” (2005). Escreveu uma autobiografia, "My Life So Far". Para lá de Oscars e nomeações, Jane Fonda ganhou imensas outras distinções e prémios em festivais e manifestações afins.


Filmografia
Como actriz: Cinema: 1960: Tall Story (Garota Apimentada), de Joshua Logan; 1962: Walk on the Wild Side (Restos de Um Pecado), de Edward Dmytryk; The Chapman Report (A Vida Íntima de Quatro Mulheres), de George Cukor; Period of Adjustment (A Arte de Bem Casar), de George Roy Hill; 1963: In the Cool of the Day (Ânsia de Amar), de Robert Stevens; Sunday in New York (Um Domingo em Nova Iorque), de Peter Tewksbury; 1964: Les Félins (A Jaula do Amor), de René Clément; La Ronde (A Ronda do Amor), de Roger Vadim; 1965: Cat Ballou (Mulher Felina), de Elliot Silverstein; 1966: The Chase (Perseguição Impiedosa), de Arthur Penn; La Curée (Queda no Abismo), de Roger Vadim; Any Wednesday (Livre à Quarta-Feira), de Robert Ellis Miller; 1967: Barefoot in the Park (Descalços no Parque), de Gene Saks; 1967: Hurry Sundown (O Incerto Amanhã), de Otto Preminger; 1968: Histoires extraordinaires (Histórias Extraordinárias), episódio “Metzengerstein”, de Roger Vadim; 1968: Barbarella (Barbarella), de Roger Vadim; They Shoot Horses, Don't They? (Os Cavalos Também Se Abatem), de Sydney Pollack; 1971: Klute (Klute), de Alan J. Pakula; 1972: Tout va bien (Tudo Vai Bem), de Jean-Luc Godard, Jean-Pierre Gorin; FTA, de Francine Parke; 1973: Steelyard Blues (Com Um Pé Fora da Lei), de Alan Myerson; 1973: A Doll's House (A Casa da Boneca), de Joseph Losey; 1976: The Blue Bird (O Pássaro Azul), de George Cukor; 1977: Fun with Dick and Jane (Adivinhe Quem Vem Para Roubar), de Ted Kotcheff; Julia (Julia), de Fred Zinnemann; 1978: Coming Home (O Regresso dos Heróis), de Hal Ashby; Comes a Horseman (Uma Mulher Implacável) de Alan J. Pakula; California Suite (Um Apartamento na Califórnia), de Herbert Ross; 1979: The China Syndrome (O Síndroma da China), de James Bridges; 1980: The Electric Horseman (O Cowboy Eléctrico), de Sydney Pollack; Nine to Five (Das 9 às 5), de Colin Higgins; 1981: On Golden Pond (A Casa do Lago), de Mark Rydell; Sois belle et tais-toi, de Delphine Seyrig (documentário); 1981: Rollover (A Face do Poder), de Alan J. Pakula; 1985: Agnes of God (Agnes de Deus), de Norman Jewison; 1986: The Morning After (A Manhã Seguinte), de Sidney Lumet; 1987: Leonard Part 6 ,de Paul Weiland; 1989: Old Gringo (O Velho Gringo), de Luis Puenzo; 1990: Stanley and Iris (Para Iris, com Amor), de Martin Ritt; 1994: A Century of Cinema, de Caroline Thomas (documentário); 2002: Searching for Debra Winger, de Rosanna Arquette (documentário); 2004: Tell Them Who You Are, de Mark Wexler (documentário); 2005: Monster-in-Law (Uma Sogra de Fugir),  de Robert Luketic; 2007: Georgia Rule (Regras Para Ser Feliz), de Garry Marshall; 2011: Peace, Love and Misunderstanding (Paz, Amor e Outras Confusões), de Bruce Beresford; 2012: Et si on vivait tous ensemble? (E Se Vivêssemos Todos Juntos?), de Stéphane Robelin; 2013: The Butler (O Mordomo) de Lee Daniels; 2014: Better Living Through Chemistry (Viver Melhor à Base de Químicos) de Geoff Moore e David Posamentier; This Is Where I Leave You (Sete Dias Sem Fim), de Shawn Levy; 2015: La giovinezza, de Paolo Sorrentino; Fathers and Daughters, de Gabriele Muccino; Krystal, de William H. Macy.

Televisão: 1962: A String of Beads; 1981: Lily: Sold Out; 1984: The Dollmaker, de Daniel Petrie; 2012: The Newsroom de Aaron Sorkin; 2014: Os Simpsons; 2015: Grace and Frankie; 

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