OS CAVALOS TAMBÉM
SE ABATEM (1969)
Sydney Pollack foi, inquestionavelmente, um dos cineastas
mais interessantes entre os revelados na década de 60, nos EUA. Filmes como “A
Flor à Beira do Pântano”, “Caçadores de Escalpes”, “As Brancas Montanhas da
Morte”, “Os Três Dias do Condor”, “Yakusa”, “Bobby Deerfield”, “Tootsie” ou
“África Minha” testemunham bem a importância da contribuição de Pollack. “Os
Cavalos Também se Abatem” data de 1969 e é outro dos seus triunfos, desta feita
adaptando um excelente romance de Horace McCoy, um dos grandes escritores
norte-americanos no domínio do “romance negro”. Ambientado em plena época da
Grande Depressão económica nos EUA, “They Shoot Horses, Don't They?” é um
documento impressionante sobre este período, desenrolando-se quase toda a obra
no interior de um recinto onde decorre uma maratona de dança, verdadeiramente
inumana na forma como é sustentada pelos concorrentes, na mira de atingirem uma
avultada maquia, prometida a quem consiga estar mais tempo a dançar de forma
ininterrupta. 1.500 dólares na altura devia ser uma importância considerável.
Vários mitos da América são aqui abordados de forma lúcida e vigorosa, desde o
espírito de competição até ao “struggle for life”, passando pelo sonho da
abastança e da terra prometida.
Estamos na Califórnia, o Eldorado americano, para onde se
dirigiam todos os que fugiam da miséria e do desemprego. Como se viu em “As
Vinhas da Ira”. Não só as condições atmosféricas ajudavam, como existia ali a
fábrica de sonhos que acalentava a esperança de muitos, sobretudo os mais
jovens, com a expectativa de serem “descobertos”. Numa vasta tenda, com uma
pista central e bancadas para o muito público que irá acorrer ao longo de dias
e dias, o show vai começar. Diz-se um concurso. São cerca de centena e meia de
pares que irão dançar consecutivamente, com intervalos de 10 minutos de duas em
duas horas. O último par a resistir ganha a taluda. Há enfermeiras e médico que
distribuirá aspirinas e pouco mais: “Pneumonia dupla é entre vocês e Deus”,
anuncia o apresentador. “O relógio nunca pára.” “Se perderem o parceiro podem
dançar durante 24 horas a solo, depois, se não arranjarem outro, serão
desqualificados.”
Esta é “a maior maratona do mundo!”, que abre as portas
da fama e da fortuna. “Sete refeições por dia” é também um bom argumento para
muitos dos concorrentes. A dança inicia-se, primeiro em slow, depois mais
agitado. Ao fim de 25 dias e de mais de 600 horas, já com muitos concorrentes
pelo caminho, o teste de energia e resistência: uma corrida à volta da pista,
extenuante, desumana, para isolar os três últimos que serão desqualificados.
“Não precisam de ser o número um na estrada da vida, mas não sejam o último”. O
marujo já de certa idade que concorre afirma que já “trabalhou em barcos de
gado e é mais ou menos a mesma coisa”.
“Negócio, estritamente negócio”, proclama o apresentador.
“Este é o tipo de acontecimento que atrai muitas pessoas. Hoje vamos ter gente
de Hollywood. Fala-se em Le Roy, na altura um dos grandes cineastas de
Hollywood. A determinada altura, o par que está a granjear maior simpatia entre
o público é chamado à parte e fazem-lhe a proposta: “Casam-se em público e
podem ganhar 200 dólares. Se não quiserem continuar casados podem divorciar-se
logo no dia seguinte”.
1200 horas de dança, outra corrida à volta da pista. A
maratona aproxima-se do fim. A cada nova corrida, um pequeno canhão é trazido
para a pista para dar o sinal de partida. Um símbolo bélico para tornar mais
real esta guerra. Como fazer dinheiro com a miséria dos outros. Como assistir à
desgraça pública de alguém, para tornar mais suportável a miséria própria. As
galerias estão cheias durante os dias, à noite decresce a multidão, para
regressar no dia seguinte, ávida de novidades dramáticas. Há quem desista, quem
tenha alucinações, quem morra na pista, quem se ofereça, quem aspire por um
tiro na cabeça. Afinal, “os cavalos também se abatem”.
Retrato implacável de uma realidade cruel e violenta, na
terra do espectáculo. Onde tudo é espectáculo. Onde tudo se compra e se vende.
Ou quase tudo.
Actores notáveis, técnicos inspirados, todos se reúnem
para fazer desta obra uma cavalgada empolgante, de ritmo vertiginoso, pela
sobrevivência e a afirmação pessoal. Gig Young foi Oscar de Melhor Actor
Secundário, e o filme recebeu mais oito nomeações: Jane Fonda, Melhor Actriz;
Susannah York, Melhor Actriz Secundária; Harry Horner e Frank R. McKelvy,
Melhor Direcção Artística; Donfeld, Melhor Guarda-roupa; Fredric Steinkamp,
Melhor Montagem; James Poe e Robert E. Thompson, Melhor Argumento Adaptado;
Johnny Green e Albert Woodbury, Melhor Música; e Sydney Pollack, Melhor
Realizador. Outros prémios e nomeações se multiplicaram. Este é seguramente um
dos mais lancinantes retratos da América da Grande Depressão, quando o
presidente Herbert Hoover exclamava que “a prosperidade está ao virar da
esquina”.
O filme não perdeu nenhuma actualidade e as maratonas de
dança agora são transmitidas pela televisão em novos formatos. Big Brother e
muitas outras “casas” e “segredos” são agora o negócio, onde tudo se vende e
tudo se compra.
OS CAVALOS
TAMBÉM SE ABATEM
Titulo
original: They Shoot Horses, Don’t They?
Realização: Sydney
Pollack (EUA, 1969); Argumento: James Poe, Robert E. Thompson, segundo romance
de Horace McCoy (“They Shoot Horses, Don’t They?”); Produção: Robert Chartoff,
Johnny Green, Theodore B. Sills, Irwin Winkler; Fotografia (cor): Philip H.
Lathrop; Montagem: Fredric Steinkamp; Casting: Lynn Stalmaster; Design de
produção: Harry Horner; Decoração: Frank R. McKelvy; Guarda-roupa: Donfeld;
Maquilhagem: Sydney Guilaroff, Frank McCoy; Direcção de produção: Edward
Woehler; Assistentes de realização: Al Jennings, Joel Chernoff, Lynn Guthrie;
Som: Norval D. Crutcher, Tom Overton, Tex Rudloff; Companhias de produção:
American Broadcasting Company, Palomar Pictures; Intérpretes: Jane Fonda (Gloria Beatty), Michael Sarrazin (Robert
Syverton), Susannah York (Alice LeBlanc), Gig Young (Rocky), Red Buttons (Harry
‘Sailor’ Kline), Bonnie Bedelia (Ruby), Michael Conrad (Rollo), Bruce Dern
(James), Al Lewis, Robert Fields, Severn Darden, Allyn Ann McLerie, Madge
Kennedy, Jacquelyn Hyde, Felice Orlandi, Art Metrano, Gail Billings, Lynn
Willis, Maxine Greene, Mary Gregory, Robert Dunlap, Paul Mantee, Tim Herbert,
Tom McFadden, Noble ‘Kid’ Chissel, etc. Duração: 120 minutos;
Classificação etária: M/ 16 anos; Distribuição e Portugal (DVD): Cine Digital.
JANE FONDA (1937 -
)
Lady Jayne Seymour Fonda é o nome de baptismo desta
actriz que nasceu a 21 de Dezembro de 1937, em Nova Iorque, EUA. Os pais foram
o actor Henry Fonda, um dos maiores da sua geração, e a muito conhecida Frances
Seymour Brokaw, uma das presenças mais cobiçadas das festividades
nova-iorquinas. Frances Seymour Brokaw suicidou-se quando Jane Fonda tinha 21
anos. Jane Fonda tem como irmão o também actor Peter Fonda e é tia de uma outra
actriz, Bridget Fonda. Com esta família parecia escrita deste muito nova a
carreia de Jane Fonda. Na verdade, estreia-se no teatro ao lado do pai, em
1954, numa produção teatral dirigida por Joshua Logan, "The Country
Girl", no Omaha Community Theatre. Em 1958, já se encontra matriculada no
Actors Studio, às ordens de Lee Strasberg. Em “Garota Apimentada” (1960) é de
novo Joshua Logan que apadrinha desta feita a sua estreia no cinema, onde irá
interpretar um importante conjunto de filmes, que merecerão dois Oscars da
Academia de Hollywood, para “Klute” (1971) e “O Regresso dos Heróis” (1978),
além de mais cinco nomeações em “Os cavalos Também Se Abatem” (1969), “Julia”
(1977), “O Síndroma da China” (1979), “A Manhã Seguinte” (1986) e “A Casa do
Lago” (1981).
Se a sua carreira profissional foi uma sucessão de
sucessos, a sua vida emocional e as suas actividades políticas e sociais
causaram profunda polémica. Foi casada com o realizador francês Roger Vadim
(1965 - 1973), depois com o activista político Tom Hayden (1973 - 1990),
finalmente com o produtor Ted Turner (1991 - 2001). Todos os casamentos
terminaram em divórcios. Durante muitos anos dedicou-se a campanhas pelos
direitos civis, pela emancipação da mulher ou contra a guerra do Vietname.
Chegou a ser presa em 1970. No início da década de 80, iniciou uma nova
cruzada, esta com base na aeróbica, publicando "Jane Fonda's Workout
Book" e alguns vídeos que tiveram grande sucesso. Em 1995, a revista
Empire publicou um inquérito sobre as “100 Sexiest Stars” e Jane Fonda aparece
em 21º lugar. A mesma revista, dois anos depois, quis saber quais eram
"The Top 100 Movie Stars of All Time" e Jane Fonda foi a 83ª da
lista. A revista Première coloca-a, entretanto, em 32º lugar na sua lista das
“Greatest Movie Stars of All Time” (2005). Escreveu uma autobiografia, "My
Life So Far". Para lá de Oscars e nomeações, Jane Fonda ganhou imensas
outras distinções e prémios em festivais e manifestações afins.
Filmografia
Como
actriz: Cinema: 1960: Tall Story (Garota Apimentada), de Joshua Logan;
1962: Walk on the Wild Side (Restos de Um Pecado), de Edward Dmytryk; The
Chapman Report (A Vida Íntima de Quatro Mulheres), de George Cukor; Period of
Adjustment (A Arte de Bem Casar), de George Roy Hill; 1963: In the Cool of the
Day (Ânsia de Amar), de Robert Stevens; Sunday in New York (Um Domingo em Nova
Iorque), de Peter Tewksbury; 1964: Les Félins (A Jaula do Amor), de René
Clément; La Ronde (A Ronda do Amor), de Roger Vadim; 1965: Cat Ballou (Mulher
Felina), de Elliot Silverstein; 1966: The Chase (Perseguição Impiedosa), de
Arthur Penn; La Curée (Queda no Abismo), de Roger Vadim; Any Wednesday (Livre à
Quarta-Feira), de Robert Ellis Miller; 1967: Barefoot in the Park (Descalços no
Parque), de Gene Saks; 1967: Hurry Sundown (O Incerto Amanhã), de Otto
Preminger; 1968: Histoires extraordinaires (Histórias Extraordinárias),
episódio “Metzengerstein”, de Roger Vadim; 1968: Barbarella (Barbarella), de
Roger Vadim; They Shoot Horses, Don't They? (Os Cavalos Também Se Abatem), de
Sydney Pollack; 1971: Klute (Klute), de Alan J. Pakula; 1972: Tout va bien
(Tudo Vai Bem), de Jean-Luc Godard, Jean-Pierre Gorin; FTA, de Francine Parke;
1973: Steelyard Blues (Com Um Pé Fora da Lei), de Alan Myerson; 1973: A Doll's
House (A Casa da Boneca), de Joseph Losey; 1976: The Blue Bird (O Pássaro
Azul), de George Cukor; 1977: Fun with Dick and Jane (Adivinhe Quem Vem Para
Roubar), de Ted Kotcheff; Julia (Julia), de Fred Zinnemann; 1978: Coming Home
(O Regresso dos Heróis), de Hal Ashby; Comes a Horseman (Uma Mulher Implacável)
de Alan J. Pakula; California Suite (Um Apartamento na Califórnia), de Herbert
Ross; 1979: The China Syndrome (O Síndroma da China), de James Bridges; 1980:
The Electric Horseman (O Cowboy Eléctrico), de Sydney Pollack; Nine to Five
(Das 9 às 5), de Colin Higgins; 1981: On Golden Pond (A Casa do Lago), de Mark
Rydell; Sois belle et tais-toi, de Delphine Seyrig (documentário); 1981:
Rollover (A Face do Poder), de Alan J. Pakula; 1985: Agnes of God (Agnes de
Deus), de Norman Jewison; 1986: The Morning After (A Manhã Seguinte), de Sidney
Lumet; 1987: Leonard Part 6 ,de Paul Weiland; 1989: Old Gringo (O Velho
Gringo), de Luis Puenzo; 1990: Stanley and Iris (Para Iris, com Amor), de
Martin Ritt; 1994: A Century of Cinema, de Caroline Thomas (documentário);
2002: Searching for Debra Winger, de Rosanna Arquette (documentário); 2004:
Tell Them Who You Are, de Mark Wexler (documentário); 2005: Monster-in-Law (Uma
Sogra de Fugir), de Robert Luketic;
2007: Georgia Rule (Regras Para Ser Feliz), de Garry Marshall; 2011: Peace,
Love and Misunderstanding (Paz, Amor e Outras Confusões), de Bruce Beresford;
2012: Et si on vivait tous ensemble? (E Se Vivêssemos Todos Juntos?), de
Stéphane Robelin; 2013: The Butler (O Mordomo) de Lee Daniels; 2014: Better
Living Through Chemistry (Viver Melhor à Base de Químicos) de Geoff Moore e
David Posamentier; This Is Where I Leave You (Sete Dias Sem Fim), de Shawn
Levy; 2015: La giovinezza, de Paolo Sorrentino; Fathers and Daughters, de Gabriele Muccino; Krystal, de
William H. Macy.
Televisão: 1962:
A String of Beads; 1981: Lily: Sold Out; 1984: The Dollmaker, de Daniel Petrie;
2012: The Newsroom de Aaron Sorkin; 2014: Os Simpsons; 2015: Grace and Frankie;
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